O ano de 2013, as perspectivas para 2014 e os incêndios da Serra do Caramulo

Eis um artigo de “balanço” de 2013 a publicar, com pequenas alterações, no Jornal Quercus Ambiente e já publicado na página quinzenal do Diário de Aveiro.

Oito anos depois do grande incêndio de 2005, o facto talvez mais marcante de 2013, embora, para o projecto, quase não o tenha chegado a ser, foi o igualmente grande incêndio (ou série de incêndios) que afectou a Serra do Caramulo em finais de Agosto, e que ficou literalmente a centímetros de atingir a área de intervenção do projecto. À semelhança do incêndio de 2005, o de 2013 progrediu muito rapidamente desde as cotas mais elevadas da serra, mas desta vez do Concelho de Tondela, numa noite de intenso vento leste e temperaturas elevadíssimas, tendo chegado ao Cabeço Santo já pela manhã. Mas aí o vento deteve-se, os meios aéreos e terrestres começaram a actuar, e de facto o fogo não chegou a atingir a área de intervenção.

Teixo (localidade)
Teixo (localidade)

Para trás tinham ficado milhares de hectares de eucaliptal ardido (sobretudo na vertente ocidental da serra), mas também pinhal, e, nas cotas mais elevadas da serra, áreas de carvalhal e povoamentos mistos, por cujo futuro agora se receia. Felizmente escaparam áreas como a Reserva do Cambarinho, o teixo “da Quercus” junto a Jueus e importantes áreas de carvalhal na zona norte da serra. Mas ainda assim o impacto destes incêndios foi devastador, e receia-se que o pior ainda esteja para vir, com a substituição de diversas formações vegetais ardidas por eucaliptal. Com efeito, nos últimos anos começaram a aparecer eucaliptais nas cotas mais elevadas da serra, onde ainda há poucos anos não se julgaria possível, e agora, com tanta área ardida, poderão espalhar-se como mancha de óleo. O que fará a Administração? Provavelmente o mesmo que tem feito até aqui em todo o lado: por meio de uma legislação intrincada que (quase) ninguém cumpre, ou, no extremo oposto, largamente permissiva e demitindo-se da sua missão de regular e ordenar, desculpa-se (ou não) de nada fazer por a floresta ser privada.

Carvalhal parcialmente queimado
Carvalhal parcialmente queimado

Seriam precisos dezenas ou centenas de “projectos cabeço santo” para contrariar tão avassaladora tendência. Em contrapartida o estado “das coisas” não é em geral tão mau (em termos de invasoras e impacto da exploração florestal anterior) como aqui, no “original” Projecto Cabeço Santo. Ver reportagem fotográfica de visita ao Caramulo realizada a 6 de Setembro de 2013: http://www.flickr.com/photos/pgridomingues/11545070086/in/photostream/

Mas, voltemos ao Cabeço Santo: em 2013 cresceu a constatação de que os trabalhos de acompanhamento das áreas alvo de intervenção inicial, entre 2008 e 2010, são essenciais, e de que a participação voluntária não é suficiente para os garantir, não obstante sejam trabalhos relativamente leves (tesourão e pulverizador de mão), embora por vezes em terreno difícil. Esses trabalhos visam sobretudo a eliminação das invasoras que reaparecem, embora, haja que reconhecê-lo, com uma intensidade muito inferior à original. Por isso, a começar ainda em 2013, o projecto contará com uma equipa de dois homens remunerados para, durante algumas semanas, realizar esses trabalhos.

Medronhal perante a presença ameaçadora da acácia-de-espigas
Medronhal perante a presença ameaçadora da acácia-de-espigas

Novas em 2013 foram também as participações (quase) sem custos para o projecto de uma equipa de sapadores da Câmara Municipal de Águeda (6 dias) e da equipa da Associação Florestal do Baixo Vouga (5 dias) ao abrigo do protocolo entre a Quercus e o ICNB. Duas contribuições que pelo menos compensam a diminuição da contribuição financeira da Câmara de Águeda para o projecto, que a “crise” justificou… Mas não se entenda esta constatação como uma crítica: o projecto agradece todas as contribuições e crê devolver (à sociedade) pelo menos “em dobro”.

Em 2013 fizeram-se importantes trabalhos de recuperação das árvores de ocorrência espontânea, sobretudo na zona ribeirinha: desbastes, desramações, limpezas de silvado. Toda a zona ribeirinha requer trabalhos volumosos de controlo da vegetação espontânea na Primavera/Verão, enquanto as árvores não adquirirem estatura suficiente para assumir essa função.

Criou-se um viveiro local de carvalhos, que começaram a ser plantados no dia da floresta autóctone de 2013, trabalhos que continuarão no Inverno de 2014.

O apiário, que produz o “famoso” mel Cabeço Santo, foi mudado para uma nova localização. Tentou-se instalar uma colmeia segundo o método Perone, mas infelizmente não resultou. No próximo ano tentar-se-á também instalar uma hTBH (de “horizontal Top Bar Hive”). Tudo com o propósito de obter colónias conduzidas de forma mais saudável e menos perturbadora para as abelhas, objectivos tão importantes num momento em que os preciosos insectos estão no centro das atenções como sinal de que algo vai mal no maneio apícola e, em geral, em tudo o que influencia a vida das abelhas. Entretanto, algumas experiências foram feitas com as actuais colmeias lusitanas (como a utilização de quadros sem cera moldada), mas os resultados não foram animadores e a produção de mel diminuiu… Mas foram experiências de aprendizagem.

Favo de mel natural
Favo de mel natural

No próximo ano tudo aponta para que a área de intervenção do projecto aumente, com mais 200 a 300 m de extensão de uma margem do ribeiro, este um progresso bem animador!

Entretanto, e já a seguir, realizam-se as jornadas voluntárias de Inverno, o momento para a congregar todos os voluntários disponíveis para participar activamente nos trabalhos do projecto. Têm participado voluntários regularmente, desde Coimbra até quase ao Porto, embora, como ficou já patente, sejam sempre insuficientes para as necessidades, e, com alguma pena, se reconheça que ainda não foi possível chegar onde primeiro se esperaria: às comunidades local e vizinhas.

Eis as datas previstas para as jornadas de Inverno: 18 de Janeiro, 8 de Fevereiro e 8 de Março. Serão, como ficou escrito acima, essencialmente dedicadas à plantação de árvores e arbustos.

Bem-vindo 2014!

P.D.

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