Habitat rupícola

Por vezes vizinho, quer do medronhal quer do habitat ripícola, é outro habitat bem representado no Cabeço Santo, não tanto pela sua extensão mas pelo facto de ter sido um habitat pouco alterado pelo homem, dada a sua inadequação à maior parte dos aproveitamentos: o habitat rupícola. É neste habitat que se encontra um conjunto de espécies herbáceas muito diversificado, espécies essas que ainda não se encontram exaustivamente identificadas. É certo, contudo que, à escala local, estão circunscritas às áreas não cultivadas do Cabeço Santo, o que por sua vez acentua a importância de se manterem estas áreas em bom estado de conservação. É preciso esperar pela Primavera para poder observar facilmente muitas delas, e algumas por um curto período, o que dificulta a sua apreciação mas aumenta a satisfação.

Diversidade da vegetação rupícola, no esplendor da Primavera
Perspectiva do habitat rupícola, onde a rocha nua, a vegetação estritamente rupícola e as plantas lenhosas do matagal se encontram
Mais uma perspectiva geral do habitat rupícola

Algumas das plantas que mais facilmente se podem observar são as mais abundantes e características plantas deste habitat, concretamente as plantas suculentas do género Sedum: Sedum album e Sedum brevifolium (arroz-dos-telhados e arroz-dos-muros respectivamente). Também, embora menos frequente, Umbilicus rupestris (orelha-de-monge ou umbigo-de-Vénus). Muito interessante, pelo porte que atinge apesar de se sustentar em apertadas gretas da rocha de xisto, é a cravina-brava (Dianthus lusitanus).  Várias outras famílias de plantas colonizam este habitat, apresentando formas e adaptações distintas: os líquenes, os musgos (briófitos), e os fetos (entre os quais encontramos o Polypodium vulgare). A vegetação rupícola é todo um universo que nos mostra a maravilhosa capacidade de adaptação da vida mesmo às condições mais difíceis de sobrevivência.

Zona com predomínio de plantas do género Sedum
Detalhe de Sedum brevifolium (arroz-dos-muros)
Umbilicus rupestris (orlha-de-monge)
Rocha onde se podem observar várias plantas de Dianthus lusitanus (cravinas-bravas)
Detalhe da flor das cravinas-bravas
Polypodium vulgare

Outras belissimas plantas encontramos neste habitat, embora possam não ser tão características dele como as anteriores, pois que aproveitam bolsas de solo e não se encontram propriamente sobre as rochas. Uma das mais raras é a bela Serapias língua, erva-língua, verdadeiro ex-libris do local, até por ser a única orquídea desta paisagem, onde os solos ácidos não favorecem a presença do género. Também muito apelativas são as campainhas-amarelas (Narcissus bulbocodium), que ocorrem de forma localizada e por um curto período. Igualmente vistoso e muito mais fácil de observar é o gladíolo-silvestre (Gladiolus illyricus subsp. Illyricus), único representante da família Iridaceae.

Serapias linguae, erva-língua, a única orquídea desta paisagem (as orquídeas são mais abundantes e diversas nos solos calcários)
Campainhas-amarelas, uma flor que só se observa em Abril
Gladíolo-silvestre, uma planta bem fácil de observar nas áreas rochosas do Cabeço Santo

As gramíneas também são abundantes e por certo a maior parte delas não identificadas. Em Junho torna-se visível uma gramínea da família Agrostis, que “pinta” canteiros na paisagem com a sua cor violeta. Quando, o que já não é muito frequente em Junho, ocorrem manhãs de orvalho, essas plantas ficam carregadas com pequeníssimas gotícolas de água, quase parecendo que nevou! Mas, para observar o fenómeno, é preciso estar lá bem cedo, numa manhã de orvalho em Junho!

A gramínea Agrostis

Claro que os habitats não são bem delimitados. No Cabeço Santo as áreas de habitat rupícola interpenetram-se com o medronhal, e sobretudo com o matagal de plantas lenhosas. É nessas zonas de contacto que se encontram plantas bolbosas como o Allium sphaerocephalon (alho-bravo), e a cebola-albarrã (Urginea maritima). Esta tem a particularidade de apresentar diferentes aspectos ao longo do ano: nas estações húmidas brotam do bolbo grandes folhas que desaparecem no final da Primavera. Em pleno Verão surge a flor bem visível numa haste de porte elevado. Ainda bolbosa, uma forma de adaptação ao clima mediterrânico, é Ornithogalum concinnum (donzelas), uma planta relativamente rara e protegida. Muito mais fácil de observar é a cila-de-uma-folha (Scilla monophyllos), como diz o nome, uma planta herbácea com uma única grande folha, brotando na Primavera belas flores azuis.Também azuis são as flores do botão-azul (Jasione montana), única representante da família Campanulaceae, que surgem sempre “aos molhos” e são muito atractivas para os insectos.

Alho-bravo
Formação de arroz-dos-muros com ocorrência de um exemplar de cebola-do-mar-albarrã
Flor de cebola-do-mar-albarrã no Verão
Batón-azul com outras (muitas) plantas

Outras plantas herbáceas que fazem as delícias de uma visita de Primavera ao Cabeço Santo são por exemplo o hipericão (Hypericum perforatum), planta medicinal bem conhecida, Anarrhinum bellidifolium (sem nome comum), que ocorre com abundância nas bermas dos caminhos e que atrai muitos insectos, a camomila (Matricaria camomila) e o dente-de-leão (Taraxacum officinale), estas duas últimas também plantas medicinais. Entre as mais fáceis de ver, ainda de referir o cornichão (Lotus corniculatus subsp. carpetanus), a única leguminosa herbácea do Cabeço Santo, de abundantes flores amarelas, que se espraia dando origem a pequenos canteiros.

Anarrhinum bellidifolium
Planta de Anarrhinum bellidifolium visitada por abelhões
Solo revestido com cornichão
Camomila
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