Por vezes vizinho, quer do medronhal quer do habitat ripícola, é outro habitat bem representado no Cabeço Santo, não tanto pela sua extensão mas pelo facto de ter sido um habitat pouco alterado pelo homem, dada a sua inadequação à maior parte dos aproveitamentos: o habitat rupícola. É neste habitat que se encontra um conjunto de espécies herbáceas muito diversificado, espécies essas que ainda não se encontram exaustivamente identificadas. É certo, contudo que, à escala local, estão circunscritas às áreas não cultivadas do Cabeço Santo, o que por sua vez acentua a importância de se manterem estas áreas em bom estado de conservação. É preciso esperar pela Primavera para poder observar facilmente muitas delas, e algumas por um curto período, o que dificulta a sua apreciação mas aumenta a satisfação.



Algumas das plantas que mais facilmente se podem observar são as mais abundantes e características plantas deste habitat, concretamente as plantas suculentas do género Sedum: Sedum album e Sedum brevifolium (arroz-dos-telhados e arroz-dos-muros respectivamente). Também, embora menos frequente, Umbilicus rupestris (orelha-de-monge ou umbigo-de-Vénus). Muito interessante, pelo porte que atinge apesar de se sustentar em apertadas gretas da rocha de xisto, é a cravina-brava (Dianthus lusitanus). Várias outras famílias de plantas colonizam este habitat, apresentando formas e adaptações distintas: os líquenes, os musgos (briófitos), e os fetos (entre os quais encontramos o Polypodium vulgare). A vegetação rupícola é todo um universo que nos mostra a maravilhosa capacidade de adaptação da vida mesmo às condições mais difíceis de sobrevivência.






Outras belissimas plantas encontramos neste habitat, embora possam não ser tão características dele como as anteriores, pois que aproveitam bolsas de solo e não se encontram propriamente sobre as rochas. Uma das mais raras é a bela Serapias língua, erva-língua, verdadeiro ex-libris do local, até por ser a única orquídea desta paisagem, onde os solos ácidos não favorecem a presença do género. Também muito apelativas são as campainhas-amarelas (Narcissus bulbocodium), que ocorrem de forma localizada e por um curto período. Igualmente vistoso e muito mais fácil de observar é o gladíolo-silvestre (Gladiolus illyricus subsp. Illyricus), único representante da família Iridaceae.



As gramíneas também são abundantes e por certo a maior parte delas não identificadas. Em Junho torna-se visível uma gramínea da família Agrostis, que “pinta” canteiros na paisagem com a sua cor violeta. Quando, o que já não é muito frequente em Junho, ocorrem manhãs de orvalho, essas plantas ficam carregadas com pequeníssimas gotícolas de água, quase parecendo que nevou! Mas, para observar o fenómeno, é preciso estar lá bem cedo, numa manhã de orvalho em Junho!

Claro que os habitats não são bem delimitados. No Cabeço Santo as áreas de habitat rupícola interpenetram-se com o medronhal, e sobretudo com o matagal de plantas lenhosas. É nessas zonas de contacto que se encontram plantas bolbosas como o Allium sphaerocephalon (alho-bravo), e a cebola-albarrã (Urginea maritima). Esta tem a particularidade de apresentar diferentes aspectos ao longo do ano: nas estações húmidas brotam do bolbo grandes folhas que desaparecem no final da Primavera. Em pleno Verão surge a flor bem visível numa haste de porte elevado. Ainda bolbosa, uma forma de adaptação ao clima mediterrânico, é Ornithogalum concinnum (donzelas), uma planta relativamente rara e protegida. Muito mais fácil de observar é a cila-de-uma-folha (Scilla monophyllos), como diz o nome, uma planta herbácea com uma única grande folha, brotando na Primavera belas flores azuis.Também azuis são as flores do botão-azul (Jasione montana), única representante da família Campanulaceae, que surgem sempre “aos molhos” e são muito atractivas para os insectos.




Outras plantas herbáceas que fazem as delícias de uma visita de Primavera ao Cabeço Santo são por exemplo o hipericão (Hypericum perforatum), planta medicinal bem conhecida, Anarrhinum bellidifolium (sem nome comum), que ocorre com abundância nas bermas dos caminhos e que atrai muitos insectos, a camomila (Matricaria camomila) e o dente-de-leão (Taraxacum officinale), estas duas últimas também plantas medicinais. Entre as mais fáceis de ver, ainda de referir o cornichão (Lotus corniculatus subsp. carpetanus), a única leguminosa herbácea do Cabeço Santo, de abundantes flores amarelas, que se espraia dando origem a pequenos canteiros.



