Antes do Incêndio
Tudo começou em 1990 quando o impulsionador original do projeto iniciou o processo de reconversão numa terra do património familiar, na zona da Pedreira, em Belazaima. Era uma antiga terra de cultivo de cerca 1000m2 com eucaliptal estabelecido já há bastantes anos, toda ela rodeada de eucaliptal também, exceto numa frente que fazia fronteira com um terreno vizinho da parcela ribeirinha, junto ao ribeiro de Belazaima. Este terreno, por sua vez, tinha plantados alguns castanheiros e ciprestes e foi alvo do primeiro emparcelamento, um processo essencial numa região de propriedade dispersa e de pequena dimensão.
Os 15 anos seguintes foram marcados sobretudo por este processo de emparcelamento em três áreas próximas umas das outras: na Pedreira, na Ponte Nova e no Valinho Turdo, sendo que em 2005 cada uma dessas três áreas tinha apenas uma parcela a dividi-la das outras. No terreno o progresso dos trabalhos era lento devido ao rápido crescimento de silvado e rudimentar das ferramentas, mas existiam alguns carvalhos com 10 ou 20 anos que sobreviveram ao abate por crescerem nas bordaduras das parcelas, onde nenhum dos proprietários vizinhos achava que tinha direito de o cortar. Então, houve o incêndio no Cabeço Santo.
O incêndio de 2005
O incêndio de 18 de Setembro de 2005 foi um evento traumático, que ficou marcado na memória local, mesmo sendo o fogo um fenómeno relativamente frequente na região.
O Verão de 2005 foi muito quente, seco e longo e na noite de 17 para 18 de Setembro ocorreu um dos eventos de vento leste, associados ao deslocamento do anticiclone dos Açores para o norte da Europa. Nestas ocasiões, no litoral de Portugal, podem ocorrer subidas de temperatura de 10 a 15 ºC em relação aos valores mais habituais, onde as típicas máximas de 28ºC podem subir a mais de 40ºC e as noites frescas de 12ºC podem transformar-se em noites tropicais de 27ºC. A humidade relativa pode cair dos comuns 100% para 30%, não só devido ao efeito das temperaturas, mas também por o ar marítimo ser substituído por ar continental. O vento, nestas condições, durante o dia costuma ser fraco e já bem depois de o sol se pôr levanta-se um vento estridente.
Nesta noite em particular juntou-se ainda o fogo posto, lançado em Linhar de Pala, no Concelho de Mortágua, pelas 23h. Dadas as circunstâncias, a progressão do fogo é rapidíssima e qualquer tentativa de o combater é inútil e perigosa. As copas dos eucaliptos inflamam rapidamente, lançando para o espaço as suas folhas incandescentes que, com a ajuda do vento e das fortes correntes convectivas locais, podem cair a centenas de metros, desencadeando novos focos de incêndio.
Foi assim que em poucas horas arderam milhares de hectares em três concelhos, arderam aldeias e terras de cultura. O fogo só foi parado de manhã, quando o vento acalmou.
Alguns espécimes nativos sobreviveram, como foi o caso de uma mancha de carvalhos espontâneos, a montante do Feridouro, que se mantiveram verdes no meio das cinzas de eucaliptal. No entanto, o esmagador resultado foi a propagação massiva das populações de acácia-de-espigas, mimosas e eucaliptos que antes já ali existiam, dando pouco ou nenhum espaço à flora nativa de se recuperar.
Para ver a história alargada, descarregar o ficheiro – Génese do Cabeço Santo








