E o Inverno a passar…

Pelas razões conhecidas, não tem sido possível realizar as jornadas voluntárias de Inverno, e por isso se verifica a invulgar situação de estarmos há quase dois meses sem notícias do Cabeço Santo nestas páginas. Mas, se há coisas que pararam, outras não podem parar, como a Terra no seu percurso sideral a caminho da Primavera… e não só.

Mas, façamos em pequeno “percurso” ilustrado desde o início de 2021, para ver o que se tem passado.

Janeiro começou frio e mais ou menos seco e acabou morno e húmido. O gráfico de temperaturas ilustra bem esta situação.

Evolução da temperatura ao longo do mês de Janeiro em Belazaima (Quinta das Tílias)

Assim, só até ao dia 18 foi possível observar cenários como este, na zona da Benfeita:

A Benfeita na manhã de 7 de Janeiro

Ao longo de Janeiro, os carvalhos foram perdendo as últimas folhas e, já no seu final, o que se destacava eram as heras, como aqui no grande carvalho do Pedregal:

O grande carvalho do Pedregal, despido de folhas, vestido de heras

Mesmo no final de Janeiro, o panorama já era bem diferente do de duas semanas antes, como se pode constatar nesta imagem da Benfeita. O carvalho em primeiro plano é aquela generosa árvore onde invariavelmente se colhem muitas e boas bolotas.

A Benfeita no final de Janeiro

A Quinta das Tílias desenvolveu extensos trabalhos nas áreas florestais da Benfeita, Vale da Estrela, Vale de Várzea (nascente e poente) e Fonte do Porco. Quase quatro anos depois do incêndio de 2017, estes trabalhos concluíram a recuperação das árvores então ardidas, com a última selecção de rebentos, o acompanhamento de todas as árvores entretanto plantadas e semeadas e ainda algumas plantações de adensamento. Também foi realizado corte selectivo de matagal e silvado, este último mais extensivo que selectivo.

Nas árvores plantadas, algumas delas ainda nas últimas jornadas voluntárias de 2020, colocaram-se estacas e mesmo tubos nas áreas onde o crescimento da vegetação espontânea dificulta a localização e o cuidado posterior das árvores.

Plantação de adensamento da Benfeita: árvores protegidas e demarcadas
A Fonte do Porco foi bastante afectada pelo incêndio de 2017. Exceptuando o coração do vale, quase todas as árvores tiveram de ser cortadas
Neste recanto não havia fetos, que foram os principais agentes dos estragos, e as árvores ficaram praticamente intactas
Logo ali na encosta ao lado, contudo, a situação já é bem diferente: verificou-se uma ocorrência massiva de mimosas no pós-fogo
Um fungo “come” uma toiça de eucalipto
Neste recanto do Vale da Várzea (poente), a densidade de carvalhos, de origem seminal e de plantação é enorme, mas ainda assim o matagal de tojos fez-lhes uma concorrência “feroz”.

Esta última imagem merece um comentário especial: os carvalhos que a legenda menciona, realmente não se vêm muito bem porque estão sem folhas, mas, apesar de ainda não terem 3 anos, estão crescidos e vigorosos. Isso, e a densidade com que ocorreram (a maior parte são de origem seminal) não impediu que um matagal de tojos (essencialmente Ulex minor mas também Ulex europaeus) tivesse também ocupado o espaço de forma absorvente, concorrendo fortemente com as árvores. O corte deste matagal, aqui realizado com moto-roçadora de forma mais extensiva do que selectiva, é essencial para permitir às árvores um avanço decisivo sobre uma formação que, ainda que preciosa e interessante sob vários pontos de vista, tem em locais como este um carácter transitório. São as plantas pioneiras, sensíveis ao ensombramento, que desaparecem logo que as árvores ou arbustos atinjam um certo porte. O corte acelera esse processo.

No dia 12 de Fevereiro, uma visita às áreas do Cambedo e da Ribeira do Tojo, permitiu obter estas imagens:

Vista do Cambedo, 12 de Fevereiro
A galeria de salgueiros do Cambedo
Outra perspectiva
A represa do Cambedo, observando-se um painel da Estação da Biodiversidade aqui instalado pela Altri Florestal. Ainda falta a ponte para atravessar o ribeiro…
Vista da Ribeira do Tojo

Claro, difícil é não dar pelas mimosas, que se destacam, “orgulhosas”, entre as árvores autóctones ainda completamente “adormecidas”. Mas não dramatizemos: pelo menos aqui, entre o Cambedo e a Ribeira do Tojo, as coisas já melhoraram muitíssimo no que toca à presença de invasoras.

Cada vez mais preocupante (ou assustadora) é a frequência com que se constata a aplicação de herbicida nos eucaliptais, uma prática que tem tido um crescimento exponencial ao longo dos últimos anos. Neste caso, à aplicação do herbicida sobre o matagal adiciona-se a desestabilização do solo pela passagem repetida de motos. E assim se prossegue alegremente em direcção a um futuro sombrio…

Eucaliptos, herbicida e motos, uma imagem que fala por si

Terminamos este percurso espácio-temporal pelo Vale da Estrela: finalmente, chegou o momento de estes eucaliptos saírem. Num vale de margens tão declivosas, nunca lá deveriam ter estado, na verdade. Também sairão as acácias-austrália (Acacia melanoxylon), e, antes do Inverno acabar, ainda aqui serão plantadas novas árvores.

Os últimos eucaliptos do Vale da Estrela
Acácias-austrália, na encosta adjacente, que também sairão

Agora, olhando para o futuro: já não falando na área que tínhamos para plantar este Inverno, nas Costas do Rio/Feridouro, e que terá de ficar para a época seguinte, há outros trabalhos que é urgente realizar, por exemplo o cuidado e a demarcação das árvores do Vale de Barrocas, a fim de poder depois entrar aí uma equipa de moto-roçadoras a realizar trabalhos de corte selectivo de matagal (pelas razões que terão ficado claras pela discussão acima). E claro, há a selecção de varas das árvores ardidas em 2017. Teremos equipa, mesmo pequena, concelhia e matinal, para, nas duas últimas jornadas de Inverno, lá irmos? Talvez até a de Março já nem precise de ser concelhia, quem sabe? Fica o desafio a “germinar”…

Até breve, numa (ansiada) jornada voluntária!

Paulo Domingues

2 Replies to “E o Inverno a passar…”

  1. Muito obrigado por esta viagem ao vale de Belazaima em tempos de confinamento. É uma frustação ver o tempo passar e não poder ir ao terreno. Há ali umas mimosas no cambedo e no tojo que estão mesmo a pedi-las!!

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