E foi assim que, após uma semana de intensa preparação, aconteceu a Conferência comemorativa dos 10 anos do Projecto. Cuidadamente preparada com a preciosa contribuição dos dedicados colaboradores da autarquia, o espaço de acolhimento encontrava-se decorado a gosto, e no exterior do Salão Nobre estava ainda patente uma exposição fotográfica sobre o projecto.
A sessão de abertura deu o mote para a Conferência, com as palavras do Vereador Jorge Almeida, do presidente da Assembleia Municipal, Francisco Vitorino, do Presidente da Direcção Nacional da Quercus, João Branco e do coordenador do Projecto, Paulo Domingues.

Esta conferência foi uma luta contra o tempo: todos os conferencistas pareciam ter mais a dizer do que cabia no tempo que lhes estava atribuído. O Dr. Jorge Paiva, é claro, poderia falar toda a manhã, mantendo a atenção de uma plateia inteira às suas palavras transbordantes de entusiasmo, mas também de preocupação, pelo que foi assistindo da evolução da biodiversidade e da floresta, especialmente em Portugal, ao longo dos seus mais de 80 anos de vida . O coordenador do projecto apresentou uma perspectiva geral dos 10 anos de evolução do projecto, embora não fosse fácil condensar 10 anos e ainda um pouco de futuro nos 35 minutos previstos. Por esta altura o atraso já era considerável, e coube à Drª Célia Laranjeira da Divisão de Ambiente da CMA a difícil tarefa de pôr ordem na agenda, o que fez com elegância.


O Fernando Leão, da Quercus, e voluntário do projecto, tem vindo a fazer, desde a última Primavera, um levantamento das aves ao longo de dois transeptos ribeirinhos e apresentou os primeiros resultados. Será interessante ver como evoluem esses resultados ao longo dos próximos 10 anos, pelo que o Fernando está desde já convidado a apresentá-los na conferência de comemoração dos 20 anos do Projecto!

O Professor João Paulo Carvalho falou sobre um tema que é central para o projecto: a recuperação ecológica de áreas florestais degradadas: muitos tópicos de grande relevância para o nosso trabalho, mas pouco tempo para os desenvolver; afinal, este tema dava por certo uma ou mais Cadeiras de um curso de ciências florestais!
Depois do almoço tivemos o Dr. Nelson Matos apresentando o Projecto InForest, que ainda dará por certo muito que falar e que tem como objectivo estimular os proprietários florestais a olharem de uma perspectiva mais abrangente para a função dos espaços que gerem.
A Drª Elisabete Marchante trouxe-nos o actualíssimo tema das espécies invasoras, um dos mais relevantes para o próprio projecto, mas que infelizmente é tão pertinente a todas as escalas da nossa paisagem. Foi uma apresentação viva e convidativa à acção de todos os participantes.

O Bernardo Markowsky não falou tanto dos objectivos, trabalhos e resultados do Movimento Terra Queimada como gostaríamos de ter ouvido, tendo optado por uma reflexão cujos termos nos fazem bem lembrar como o tema da paisagem e dos usos que lhe são dados nos dias de hoje é fértil em oposições irreconciliáveis e discussões polarizadas, que facilmente descambam em voltares de costas. O Projecto Cabeço Santo, ao juntar duas entidades com objectivos tão distintos como a Quercus e a Altri Florestal, teve que trabalhar intensamente esta dimensão, pois de contrário, em vez de alguns resultados no terreno, teríamos desperdiçado energias em literatura de escasso valor.
Tal já era o atraso que não houve tempo para a pausa e passou-se de imediato à apresentação sobre a produção de medronho para fruto. Tema de grande relevância e que se poderá reflectir na própria paisagem do Cabeço Santo como forma de usufruto “alternativo”. O futuro o dirá. Para já, manteremos o contacto com o conferencista, Dr. Carlos Fonseca da Medronhalva.

E a conferência terminou com chave de ouro: quando parecia que o Dr. Pedro Bingre do Amaral nos vinha trazer um tema de interesse secundário, o do turismo de natureza, o docente da ESAC brindou-nos com uma abordagem do tema mergulhando profundamente nas suas raízes históricas e culturais, ao nível que nos tem habituado sempre que temos o privilégio de o ouvir.

Claro, “pecámos” na gestão do tempo, e quase não houve tempo para perguntas e discussão. Na sessão de encerramento estiveram o coordenador do projecto, o Vereador João Clemente e a presidente da Direcção do Núcleo de Aveiro da Quercus, Dora Oliveira.

Ainda estamos a avaliar se a gravação das conferências ficou com suficiente qualidade para poderem ser publicadas e partilhadas. Agora resta esperar que esta conferência dê frutos, no nosso trabalho e na forma como, pelo menos os presentes na conferência, olham para a paisagem e agem sobre ela. É verdade que continuamos a ser poucos: o Salão Nobre da Câmara Municipal não encheu, como chegámos a achar que seria possível. Mas isso só pode servir para aumentar a nossa determinação. E agora, há que voltar ao terreno, nos próximos 10 anos, um dia de cada vez. Isto para parafrasear a mensagem da nova T-shirt produzida para esta data e que chegou já a meio da conferência: “Salvar o planeta, uma árvore de cada vez”, numa versão internacional que… está à venda para apoio ao projecto por 10 Euros por unidade.

Um obrigado a todos os que contribuíram para esta conferência e até breve, no Cabeço Santo! As fotos são, na sua maioria, do Paulo Almeida.
Paulo Domingues
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Foi uma conferência muito boa, muitas comunicações mesmo muito interessantes! E já trouxe logo uma T-Shirt, que estão mesmo bonitas… e trazer à frente uma menção a este Projecto de verdadeira inovação no campo da conservação da natureza é um prazer. !0 euros é um preço simbólico de apoio, pois a T-shirt está muito boa!
Os lanchinhos providenciados pela CM Águeda também estavam bons, ajudando a passar um belo dia de activismo tranquilo.
Não sei o que esperaram depois desta catástrofe no Agosto 2016 que destruiu o nosso – e de outros grupos ambientais, incluindo de ICNF -trabalho da reflorestação na Serra da Freita, mas certamente falei dos nossos objectivos principais: sobre o fundo de poço de flagelo de incêndio florestais. O abandono de interior, causado pelo eucaliptismo incondicional (Prof. Jorge Paiva, um destes que “falaram mal sobre o eucalipto”), a propagação de fogo pelos mantas da monocultura sem fim e assim a impossibilidade de o controlar no combate, a concentração dos meios de combate nas eucaliptais, provavelmente os bens que mais interessam(?) e assim o novo abandono da serra (“deixa o monte arder” – ordem de comando da proteção civil em Lisboa). Se não vai haver uma nova política, um novo destino, uma nova visão da gestão florestal neste país, para o que dobramo-nos, sacrificamos a nossa e a energia (e dinheiro) dos voluntários? Nós não temos objectivamente razão para auto-contentamento.
Certo, isto diz pouco sobre o valor de projecto Cabeço Santo, mas sobre o resto à volta muito. Porque e quê é este projecto valioso não tem filhos, projectos seguidores? Por que e quê os grupos maiores da indústria de celulose não são fiscalizadas pelo impacto nos incêndios que têm? Por que e quê não há um plano, não uma bolsa para a deconstrução sucessiva das manchas eucaliptais? Como assim a Altri pode orgulhosamente reclamar de gerir os seus terrenos “sustentável”? Quando a monocultura de eucalipto se estende cada vez mais – depois de cada verão catastrófico – numa extensão e velocidade assustador. Venham visitar o conselho de Arouca e a Serra da Freita, faço o guia. Virar as costas à realidade não é opção.
Bernd Markowsky