Um dia incerto

As previsões meteorológicas para Sábado, 9 de Março, não deixavam dúvidas (chuva, trovoada, vento forte) e a opção foi tomada: cancelou-se a jornada.

Mas, qual surpresa, o dia acordou sereno, radioso, e sem ponta de núvem no céu! Como era muito importante terminar os trabalhos de desbaste dos rebentos dos carvalhos antes da Primavera, e antes que o tempo mudasse de “opinião”, decidi ir, mesmo sem a preciosa ajuda de um grupo de voluntários. Estes trabalhos, recorde-se, servem para recuperar as árvores (sobretudo carvalhos, mas também sobreiros, salgueiros e amieiros-negros) que arderam em 2005, e das quais uns 95% perdeu completamente a parte aérea, vindo depois a rebentar abundantemente de toiça. Embora sem intervenção muitos desses rebentos acabem por secar, não é invulgar encontrar em árvores que não chegaram a receber cuidados desde 2005 uma dúzia de rebentos por toiça, embora mais vulgarmente entre 4 e 6. Se não fossem seleccionados, estes rebentos dariam origem a pequenas árvores mais parecidas com arbustos de porte elevado. Embora talvez cumprissem igualmente a sua função ecológica, sem dúvida que, para os olhos humanos, não seriam tão admiráveis como as árvores originais, ou aquelas que, com o tempo, se podem vir a tornar se o trabalho de selecção de rebentos for realizado. Estes rebentos foram primeiro seleccionados em 2009, e numa primeira fase foram deixados entre um e três rebentos. Depois a rebentação secundária (que surgiu devido ao corte de parte dos rebentos) foi sendo cortada nos anos seguintes e em 2013 faz-se finalmente uma nova grande selecção, após a qual fica em geral apenas um rebento, ou, excepcionalmente, dois. Era este trabalho que estava para concluir.

Embora ainda pouco passasse das 8 da manhã, quando cheguei aos portões da mata do Cabeço Santo, eis que, vinda não se sabe de onde, uma nuvem fez cair um aguaceiro! Mas foi só um desafio: pouco depois chegava à mancha de carvalhal a jusante da foz do vale nº 6 e o aguaceiro passava. Depois foi aproveitar ao máximo o bom tempo para realizar o essencial do trabalho mais urgente nesta preciosa mancha de carvalhal. Eram 11 em ponto, já o trabalho estava aqui praticamente terminado, e um forte aguaceiro fez a sua aparição. Foi ocasião para tirar algumas fotos e passar a uma área um pouco mais a jusante, junto à antiga levada por onde passa o trilho pedestre, uma área de solo pobre e ainda com bastantes mimosas, mas onde os jovens carvalhos desafiam a ideia corrente de que necessitam de solos férteis e profundos!

Mancha de carvalhal a jusante do vale nº 6
Mancha de carvalhal a jusante do vale nº 6
Medronheiro
Medronheiro

Mas a partir de agora os aguaceiros apareceram com mais frequência, e as “fugas” para o abrigo foram várias até às 13. Ali, junto a um carvalho, um “voluntário” desconhecido deixou uma demonstração do seu carácter, ali, a 6 km de Belazaima e a 3 do Feridouro (mas, afirmo-o com convicção, estou certo de que tal “voluntário” não era do Feridouro). Até às 15 o trabalho aqui ficou concluído, e mais uma pequena sessão de fotos…

Marca de uma presença "voluntária" incógnita
Marca de uma presença “voluntária” incógnita
Junto a um jovem carvalho, uma mimosa queimada em 2005 permanece em pé!
Junto a um jovem carvalho, uma mimosa queimada em 2005 permanece em pé!

Depois foi tempo de rumar à margem sul, pela ponte de Belazaima-a-Velha, onde outros “voluntários” igualmente dedicados deixaram marcas de sobra. O tempo foi-se agora mantendo sem aguaceiros, e os trabalhos foram terminados num carvalho que já por várias vezes foi alvo da atenção dos voluntários, e que de 4 rebentos ficou com 2. Mas este era um daqueles 5% que não perdeu completamente a parte aérea no incêndio, embora seja difícil saber desde que altura ou porquê tinha 4 rebentos.

Na ponte de Belazaima-a-Velha...
Na ponte de Belazaima-a-Velha…
Jovem carvalhal na margem sul
Jovem carvalhal na margem sul
Última árvore cuidada
Última árvore cuidada

Estes trabalhos não foram aqui completamente concluídos mas foi sem dúvida preciosa a possibilidade de usufruir deste dia, pois de outro modo, seria quase certo que fossem adiados para o ano seguinte. Agora, o trabalho que se segue nestas áreas é arrumar a lenha e as ramadas, para não estorvarem os trabalhos de limpeza de silvado e rebentação de mimosa, que serão realizados com motoroçadora. E, idealmente, sê-lo-ão ainda antes da emergência dos fetos, cuja presença torna estes trabalhos muito mais difíceis. Por isso, desde já aqui fica a “convocatória” para uma grande jornada voluntária a realizar no Sábado a seguir à Páscoa, 4 de Abril, e que será também uma oportunidade para “dar as boas-vindas” à Primavera!

Paulo Domingues

2 Replies to “Um dia incerto”

  1. UM grande ,MUITO GRANDE sinal de admiracao pelo trabalho realizado pelo meu conterraneo PAULO DOMIMGOS no Cabeco Santo,pois eu sei que para alem de todas avaliacoes que possam ser feitas o Paulo dá a cara e faz .
    Desde já aqui fica a minha oferta de ajuda caso seja nesseçário

    ass. PEDRO ALVARIM

    1. Caro amigo e conterrâneo João Pedro,
      Obrigado pelas palavras de apoio. De facto, a participação e o empenho dos nossos concidadãos neste projecto sempre me pareceu um objectivo do qual nunca desistir, nem que leve 20 anos a concretizar. Por isso, a tua participação, mais do que necessária, é fundamental, não apenas para ajudar nos trabalhos, mas para que se constitua uma base de apoio local de onde emane, nos princípios e na prática, uma forma diferente de olhar para a nossa paisagem, não em primeiro lugar como fonte de rendimento, mas como fonte de inspiradora beleza, diversidade, serviços ecológicos não directamente quantificáveis, e ainda mais.
      Sê bem-vindo já na próxima jornada, se possível!
      Abraço,
      Paulo Domingues

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