Desta vez proponho uma pequena visita guiada por alguns locais do Cabeço Santo onde se desenrola o projecto de recuperação. Fotos no final deste artigo.
Começando pelo estradão florestal que passa junto ao marco geodésico (no ponto mais alto do cabeço), encontramos um mar de acácias (Acacia longifolia) (1). Nesta zona, onde ainda não foi possível intervir, as formações invasoras são tão densas que quase nem um rato as consegue penetrar (2).
Depois descemos até à área onde no ano passado se plantaram medronheiros e se semearam bolotas de sobreiro, uma área de reconversão de eucaliptal. Como é sabido, as últimas foram comidas por javalis, só tendo escapado dois ou três tubos direitos, que passaram despercebidos (3). Num deles, a bolota também não germinou, mas logo houve quem encontrasse outra função para o tubo (4).
Os medronheiros, esses, estão bastante bonitos, mesmo os que foram plantados em solo mais difícil, mostrando a adequação desta espécie às condições presentes (5-6). Para este Outono/Inverno contamos com 1500 para plantar! Aqui fica uma perspectiva outonal da área de reconversão, ainda largamente desocupada de árvores e arbustos (7).
Numa área rochosa próxima havia uma densidade muito grande de plantas ainda não muito altas de Acacia longifolia onde se recorreu no ano passado à pulverização com um herbicida de contacto. No entanto, apesar da densidade das plantas ter diminuído consideravelmente, não foram totalmente eliminadas (8). Agora já se encontram muitas plantas nativas entre as exóticas e a solução deverá passar pelo corte com tesourões.
Descendo agora até ao Ribeiro de Belazaima, aqui fica uma perspectiva do vale 5, ladeado por plantações de eucalipto mas livre para a implantação de um “corredor ecológico” (9).
Junto ao Ribeiro de Belazaima as coisas complicam-se: o declive aumenta, as plantas exóticas e invasoras ocorrem em sítios por vezes inacessíveis, o curso do ribeiro encontra-se atulhado de árvores e ramadas queimadas, enfim, um panorama a requerer muita, muita paciência… (10-11)
No entanto, foi possível encontrar aqui um arbusto que, noutros locais, mesmo na mata do Buçaco, onde é abundante, é raro encontrar com fruto. Este, que sofreu mais com a queda dos eucaliptos do que com o incêndio, encontra-se carregado: trata-se de um aderno (Phillyrea latifolia) (12).
Neste local morfologicamente previligiado, onde convergem, quase num único ponto, os vales 3, 4 e 5, o coberto vegetal encontra-se contudo muito degradado (13). Mas livre para ser recuperado. Na margem esquerda do ribeiro, propriedade privada, como por todo o lado, os trabalhos só se poderão iniciar depois de conseguido algum acordo com os proprietários (14).
Paulo Domingues