Durante o mês de Agosto as equipas contratadas continuaram os trabalhos de corte mecânico da vegetação exótica e invasora. As equipas não foram agora tão assíduas como antes e pode-se já antever que os trabalhos que se previam realizar este ano não poderão ser concluídos. Mas o mundo não deve acabar já este ano…
Já na segunda quinzena começaram os trabalhos mais críticos deste projecto: as pulverizações com herbicida da rebentação da vegetação exótica e invasora. Muitas vezes esta opção foi interpelada, outras tantas a resposta foi dada, e certamente que a dúvida permanecerá em muitas mentes, talvez, em alguma medida, nas nossas próprias, na minha em particular, que sou o responsável último por essa opção. Justifica-se e não há alternativa à utilização de um meio químico para atingir os fins propostos? Os danos, inevitavelmente causados a seres vivos que fazem parte do sistema que se pretende recuperar e conservar, são menores do que se esta opção não fosse utilizada? Para compreender a resposta há também que ter em conta a escala: em pequena escala, digamos, até alguns milhares de metros quadrados, seria ainda viável (por meio de uma mão-de-obra modesta) realizar um trabalho de corte selectivo repetido que acabaria por “cansar” os pés das plantas de vegetação invasora. Em larga escala, e a não ser que se contasse com um “exército” de mão-de-obra gratuita, isso é impossível, sobretudo num contexto de, frequentemente, extrema densidade de ocorrência de plantas invasoras. Tudo indica também, admitindo que não há contaminação persistente do meio, que, para a vegetação nativa ainda existente, a opção pelo herbicida seja preferível, pois mesmo que alguma seja atingida, o espaço deixado vago pelas plantas invasoras dará lugar a uma recolonização por nativas, ao passo que, se nada fosse feito, o crescimento das invasoras acabaria por incrementar a exclusão das nativas pelo ensombramento e a concorrência por água e nutrientes.
Sem dúvida que lamento recorrer a um meio em relação ao qual sempre cultivei uma atitude de desdenhosa indiferença; lamento que, para recuperar algo que já se encontra tão danificado (as formações espontâneas nativas) não o consiga fazer de outro modo senão causando uma agressão adicional. Mas é esta a (triste) situação em que nos encontramos e o melhor que podemos fazer é tirar ilacções de um âmbito mais alargado em relação à cultura (a nossa própria, a da civilização em que nascemos) que a tal situação deu origem.
Voltando ao trabalho, claro que se tenta fazer aplicações de herbicida o mais localizadas possível, procurando minimizar a dispersão; ao limitar as aplicações entre o meio do Verão e o princípio do Outono, minimiza-se a probabilidade de causar dano a plantas com ciclo de vida centrado nas estações mais húmidas; três anos depois do incêndio os arbustos nativos sempre verdes têm já frequentemente uma altura que lhes permite serem detectados visualmente e não serem atingidos; mas é impossível evitar totalmente o dano.





O trabalho é realizado usando um atomizador instalado num tractor, com uma mangueira de 100 metros de comprimento. É necessária pelo menos uma pessoa para pulverizar, outra, às vezes duas para movimentar a mangueira. Mesmo assim a progressão é frequentemente difícil, não só pelo declive e o carácter do terreno mas sobretudo devido às árvores queimadas ainda no solo. Quase sempre acácias que eram árvores grandes aquando do incêndio, e que cairam naturalmente ou foram cortadas, ficando lá, pois que ninguém teve interesse em as levar, mesmo de graça. As estas árvores queimadas juntaram-se ainda os rebentos verdes do corte recente. O ideal é pulverizar sem vento, mas esta condição nem sempre se verifica. A todas estas dificuldades os homens vão resistindo e o trabalho avança.
Claro, faremos um balanço desta fase do trabalho. Novas ideias e perspectivas de pessoas com conhecimento e experiência na área da recuperação ecológica são esperadas. E no próximo ano de 2009 faremos as alterações e os ajustes que a experiência e as novas contribuições aconselhem.
Agora é tempo de voltar ao trabalho. A propósito, já notaram que neste empreendimento há lugar para voluntários apaixonados pela vida – na sua vertente “Natureza espontânea” -, ou pelo menos com o coração aberto para se apaixonarem? Porque se não cumprirem uma dessas condições é preferível não virem, pois é provável que se cansem depressa!… Vejam o artigo anterior!
Paulo Domingues