Realizou-se no Sábado passado uma visita ao Cabeço Santo organizada pelo grupo de alimentação e ambiente da iniciativa Aveiro em Transição.
Foi um evento participado, que se iniciou junto à nova Capela de São Francisco no Feridouro. Seguiu-se a subida do cabeço, agora atravessando uma parcela de vários hectares em início de recuperação que acompanha a margem norte do vale. Com os rebentos de eucalipto já largamente excluídos pela via “química”, permanecem sobretudo mimosas no coração do vale e eucaliptos de origem seminal nascidos na sequência do incêndio de 2005. Foi aqui que os visitantes tiveram oportunidade de fazer uma pequena sementeira de bolachas de sementes produzidas na jornada anterior. As espécies escolhidas são apropriadas para as características do local: medronheiro, murta e lentisco.

Observou-se depois, de várias perspectivas, o terreno aqui adquirido pela Quercus em 2006. Embora a vegetação nativa seja já claramente dominante, e as árvores plantadas numa extremidade do terreno estejam já com 3 ou 4 metros de altura, ainda se observam muitos eucaliptos e também acácias-de-espigas, o que significa necessidade de voltar aqui, depois de vários anos em que aqui a intervenção foi minimalista.

A caminhada prosseguiu até se atingir o antigo caminho da mata, onde se observou o medronhal, com o seu cortejo de espécies típicas: murta, lentisco, e matagal lenhoso. Não obstante o período menos favorável, ainda se conseguiram observar duas urzes em flor: a carapaça (Erica ciliaris) e a Calluna vulgaris. Na cabeceira do vale nº 3 constatou-se o muito trabalho que ainda há aqui a fazer na remoção das plantas de acácia-de-espigas.
A seguir ao vale nº 6 foi necessário encurtar o percurso, deixando o Trilho da Serra: fez-se uma descida directa até à zona da Ribeira do Tojo, com o objectivo de observar o carvalhal da zona ribeirinha em recuperação. Quase 6 anos depois das primeiras plantações, o bosque é ainda jovem e longe da auto-suficiência, mas as árvores aqui existentes já merecem bem uma visita, agora enriquecida pelas cores outonais.



Depois de um vislumbre de trabalhos futuros, a última parte da caminhada fez-se ao longo do “corredor ecológico” ribeirinho cuja recuperação se iniciou este ano.



Como os visitantes puderam constatar, quase toda a área de intervenção é uma área “em transição”, das mais monótonas formações de eucaliptos e mimosas, para os diferentes habitats autóctones, muito mais interessantes de um ponto de vista paisagístico e mais amigos da fauna silvestre. Mas para esse processo ser mais rápido, efectivo, e menos custoso financeiramente, uma participação voluntária expressiva é essencial. Por isso os visitantes foram convidados a aparecer nas nossas jornadas voluntárias. E a próxima é já no dia 12 de Dezembro, uma grande jornada de sementeira de bolas e bolachas de sementes!

Até breve!
Reblogged this on communitysoulbook.
Boa noite!
O primeiro, parabéns polo voso traballo de recuperación. Estou encantado de ler o que estades a facer. Toda unha inspiración para replicalo aquí na Galiza (temos o mesmo problema: incendios e repoboacións con especies alóctonas).
Quería facervos unha pregunta. Como facedes para convencer os donos das fincas, para que vos deixen sementar autóctonas e non piñeiros ou eucaliptos? Pagádelles algo? Porque eles non van obter rendimento económico dun carballal, non a lo menos na súa vida.
Gostaríame facer algo así, pero aquí non aceptarían nin baixo tortura. 🙂
Por outra banda: como dixen no meu blogue, o problema galego é que o 98% da terra forestal é de propiedade privada (persoal ou Comunidades de Montes). En España o normal é que a metade do monte sexa do Estado (normalmente, os concellos ou as veces a Comunidade Autónoma, as vosas regiões). Ése é o principal problema, loitar contra a cobiza e pensamento curtopracista dos donos, sen poder facer unha política forestal a longo prazo, por intereses electoralistas. ¿Cómo é a situación do monte en Portugal? ¿Cómo é a propiedade das terras forestais?
Un verdadeiro pracer tervos coñecido.
Apertas!
Olá Mendigo,
Obrigado pelo interesse e pelo contacto.
Em Portugal a maior parte da área florestal é privada. A área administrada pelo Estado é bastante reduzida e depois há também os baldios, que são propriedades comunitárias, mas que, na área mais produtiva para o eucalipto, estão também ocupados por esta espécie. Contudo na área onde se desenvolve o projecto Cabeço Santo não há baldios, pelo que toda a área é propriedade privada. Neste caso restam-nos duas soluções: ou convencemos os proprietários das virtudes de dar a pequenas parcelas das suas propriedades um uso diferente, orientado para a ecologia e a paisagem, ou temos de adquirir a propriedade. No caso do Cabeço Santo temos as duas situações. Mas o facto de existir uma propriedade de algumas centenas de hectares, gerida por uma empresa com a qual estabelecemos um contacto frutuoso, a Altri Florestal, facilitou a nossa tarefa. A existência de áreas marginais também facilita porque não há pressão produtiva sobre essas áreas, embora também sejam limitadas no que podemos lá colocar.
Mas o melhor para apreciar estas e outras questões é vir ao local. Desde já aqui fica o convite!
Muito obrigado, Paulo!
O día que pase por esas terras, teño que pasar a visitarvos. Será un pracer ver o que estades a facer coa terra.
Realmente sentinme moi emocionado coñecer o voso proxecto (e outros que me ensinou Jorge). Ha esperanza! Gostaríame botar a andar algo así na miña terra: o Sur de Galiza. Por certo, de feito, a aldea do meu pai está a uns centos de metros da raia, para min Portugal non era “o estranxeiro” senón a aldea do lado. 🙂
Grazas polas explicacións, pero coido que aínda teño o interrogante na miña cabeza. O de mercalas non ten misterio, claro, a cousa é buscar fondos (difícil, pero sei qué camiño tomar). Pero ¿convencer á xente?
Eu penso cómo facer para convencer a alguén de que me deixe sementar na súa terra aciñeiras ou carballos e non piñeiros ou eucaliptos e, senón é coa hipnose o emborrachándoo… XD
A xente quere diñeiro, e pronto. A ecoloxía vese como un luxo para ricos.
Eu estou repoboando con autóctonas, pero só nas terras que me deixou o meu pai e nas dalgún amigo, se cadra algún sitio abandoado. Pero iso non chegará nin a 2ha. Quería impulsar unha asociación para facer moito máis, pero non sei cómo comezar.
Estiven mirando o de Altri. Claro, é unha empresa que ten en carteira 83.000ha de eucalipto, pode deixarvos una pequena parte como “custos de imagem”, para poder presentarse como sustentábel e todo iso. Por suposto, menos é nada, e fixestes moi bo traballo negociando con ela.
En fin. Vou pulsar algunhas cordas, a ver qué resposta obteño, porque eu só non son nada. Se o final comezamos unha aventura como a vosa, ides ter un alumno preguntando a cada paso. 😉
É un prazer atopar gente que ame a terra.
Abraçadas!
Olá outra vez Mendigo!
Só para deixar uma nota algo pessoal de incentivo: quando comecei, por volta de 1990, a trabalhar na reconversão florestal, fi-lo num terreno de família com 1000 m2! Com os anos, essa parcela cresceu para 1,3 ha e é hoje um bonito bosque. Mesmo que não tivesse condições para fazer mais nada, já tinha valido a pena. Felizmente tive, e aproveitei (quase) todas as oportunidades que vi ao meu alcance para o fazer.
O que é mesmo preciso é fazer o que está ao alcance e persistir, sempre. Nunca desistir porque era pouco o que se podia fazer!
Abraço,
Boas, Paulo.
No persoal, cóntoche un pouco da miña andaina. O meu pai quería facer algo coas terras dos meus avós, e prantou castiñeiros. Arderon. Prantou de novo: voltaron arder. O meu pai morreu, e eu intentei sacar adiante a lo menos unha das parcelas, mantendo os castiñeiros que saíran do pe no último incendio, engadindo algunha cerdeira (cereijeira, creo, en portugués), unha figueira e algunha cousa máis. Ardeu de novo. Despois de chorar o ver cómo estaba aquilo, esquecinme do tema e non volvín pasar pola aldea durante varios anos (eu vivo na cidade).
E vai uns anos recuperei forzas e volvín comezar, poñendo nunha das fincas unha mestura de mazairas e Quercus, carballos, aciñeiras e sobreiras (ou corticeiras, que tamén é como vos as chamades, ¿non? 😉 alcornoques en castelán).
E noutra, máis húmida, bidueiros, nogáis, amieiros, salgueiros, vimbio… A segunda ardeu o Setembro de vai dous anos (ademáis de que estou certo de quen foi, un fulano para crear pasto para as ovellas). E estou tremendo que o día menos pensado tamén arda a principal.
Cómpre ter forzas, pero xa teño chorado dabondo. Pero se os mesmos que viven na aldea queren facer dela un inferno…eu non podo facer nada.
Mira, este vrao escribín sobre esta vaga de lumes:
https://esmola.wordpress.com/2015/08/31/la-solucion-final-a-los-incendios-forestales-en-nw-peninsular/
¿Ti pensas que é lóxico que haxa 42 lumes nos primeros sete meses do ano, só nunha parroquia?
Así non se pode facer nada. O primeiro paso é educación, educación, educación, para sacar a xente da animalidade. Traballar cos rapaces, porque cos vellos xa non hai nada que facer.
Unha aperta!!!
Olá Mendigo,
Obrigado pela partilha! Fiquei impressionado com o alcance das tuas investigações sobre o tema dos incêndios, mas ainda mais impressionado fiquei com a gravidade da situação que aí se vive. Parece muito mais grave do que por aqui! Mas numa coisa não é muito diferente: na conclusão de que é imperioso apostar na formação dos mais jovens, pois aos mais velhos é difícil fazer chegar um discurso de apreciação por valores que não se traduzam directamente em €€!
Abraço!