A manhã do dia 25 de Janeiro começou cinzenta e regada de um chuvisco fraco mas persistente, a desafiar as previsões mais competentes dos dias anteriores. Mesmo assim, cinco voluntários, alguns deles bem jovens, e um estreante, aceitaram o desafio: ir até ao Cabeço Santo plantar árvores e arbustos. Na bagagem estavam já carvalhos e medronheiros, bem como os azevinhos que um amigo de Alvarim tinha oferecido. E claro, as ferramentas, os fertilizantes, a comida e tudo o que era necessário para um dia no campo.
O destino era o vale nº 5, para continuar os trabalhos da jornada anterior. Mas, já na Mata do Cabeço Santo, um segundo motivo a querer roubar o alento aos voluntários (o primeiro era o chuvisco!): encontrou-se na beira do caminho um medronheiro, daqueles que foram plantados em 2010, e agora já com 2 metros de altura, cortado a golpes de machado há muito poucos dias. Fez-se o que havia a fazer: um corte a serrote da toiça e esperar que rebente de novo.

Logo ali, deixou-se o antigo caminho da mata e subiu-se por um caminho mais recente, aberto pela Altri florestal já depois de 2005. Mas 200 metros à frente, novo contratempo: a água das abundantes chuvas que têm caído, havia aberto uma tal cratera no caminho que era perigoso continuar por ali. Teve que ser recuar até ao caminho principal! Mas, seguindo agora por este outra vez, novo motivo de desalento: já ao chegar ao vale nº 5 havia ali um carvalho de dois troncos já anterior a 2005. Com o fogo, ficou muito danificado, mas ao longo destes anos tinha vindo a recuperar. Agora constatámos que o tronco mais grosso tinha sido cortado, tendo ficado apenas o mais fino. Por certo um abuso seguramente alheio à Altri florestal.
Nos tempos que correm, um voluntário não pode desanimar por dois ou três motivos de desalento, pelo que a equipa continuou sem hesitação. A zona do vale nº 5 para onde se pretendia ir ficava relativamente distante dos caminhos mais próximos, pelo que foi necessário procurar um atalho e ainda transportar os materiais por uma encosta íngreme, por onde a carrinha não podia ir: foi aí que os voluntários tiveram oportunidade de apreciar e de se maravilharem com as incríveis potencialidades das pernas humanas!

Finalmente, já eram quase 10:30h quando se conseguiu chegar ao local alvo. Já não chuviscava mas a neblina era espessa e assim continuou até ao meio dia. Mas claro, agora já mais nada podia desalentar a equipa e os trabalhos começaram. As águas corriam abundantes pelo coração do vale, um cenário raro, próprio dos tempos de precipitação abundante. Aliás, a equipa ficou surpreendida com a dimensão das pedras arrastadas pelo vale abaixo.


Este, como praticamente todos os outros do Cabeço Santo, é um vale com “personalidade”: abre-se sobre a cabeceira como uma asa de borboleta, depois as suas encostas íngremes convergem para uns rochedos de xisto revestidos de plantas rupícolas. De um lado do vale, uma encosta rochosa, cheia de afloramentos, uma das poucas áreas do cabeço onde nem sequer pinheiros foram semeados; do outro lado, solos profundos e férteis, onde o aproveitamento para eucaliptos deixou uma faixa de 20 ou 25 metros, essa onde agora podemos plantar carvalhos, azevinhos e medronheiros. Azevinhos e medronheiros?! Esta combinação faz soar uma campainha na cabeça de qualquer biólogo, mesmo sem muitas inclinações para a botânica. E entre os voluntários havia um! Bem deve-se esclarecer que as combinações reinventadas foram: carvalhos e azevinhos (em certos sítios) e carvalhos e medronheiros (noutros sítios), sempre procurando pressentir as características de cada sítio e olhando para o que já havia em redor. O vale segue selvagem em direcção ao ribeiro passando, depois do novo caminho que hoje não nos deu passagem, por uma área ainda dominada por um alto sobreiro, orgulhosamente sobrevivente à “tempestade” de 2005. Depois do antigo caminho da mata é uma pequena mas bem ancorada mancha de mimosas que ainda aqui resiste, mas que, naturalmente, não será para ficar. E o vale atinge o ribeiro em mais uma escarpa de difícil acesso, junto aos vales 3 e 4 onde ainda há muito para fazer no que toca às mimosas. Um vale que, só por si, podia ser alvo de um projecto, podia ter só para si um grupo de cuidadores, um núcleo de estudiosos, uma associação de amigos, uma página no Facebook! O vale nº 5!



Pelo meio dia o sol já rompia, o que amenizou as condições do almoço, que não eram propriamente luxuosas. Mas claro estes não são “voluntários de garfo e faca”, aliás, nestes almoços nem costuma haver garfos!
À tarde os trabalhos continuaram, primeiro acima, depois abaixo dos picos rochosos de xisto, e ainda houve tempo para cortar algumas mimosas e eucaliptos que por ali foram ficando, e que não ficavam muito bem na foto da cascata que queríamos tirar no final! E no final, a área estava completamente plantada, só ficando umas poucas mimosas e eucaliptos por cortar para que esta importante extensão do vale fique definitivamente no “bom caminho”!









Os voluntários, cansados de tanto subir e descer, mas alentados pela satisfação do trabalho realizado, posaram junto à cascata para a foto de despedida, mas claro, não se foram embora sem terem recebido o seu merecido frasquinho de mel Cabeço Santo.

A próxima jornada é já dentro de duas semanas. Haverá por aí valorosos voluntários para render estes que tão frequentemente têm participado e que nem sequer podem admirar esta paisagem das suas janelas em cada manhã? Ainda voltaremos à cabeceira do vale nº 5 mas depois seguiremos para outros locais. Até lá.