Jornada de visita de 25 de Maio

Com uma vintena de participantes, realizou-se no dia 25 de Maio a jornada anual de visita ao Cabeço Santo, desta vez quase uma inauguração do percurso pedestre recentemente demarcado pela Câmara Municipal de Águeda. No entanto a demarcação “oficial” não foi seguida rigorosamente, consequência do facto de o percurso poder ter variantes propostas pelo projecto. E a primeira foi logo à partida: a equipa partiu da Capela do Feridouro [0] (ver ficheiro percurso25-5-2013 para referenciação dos pontos e http://www.flickr.com/photos/cabeco_santo/8927586540/ para visualização de uma reportagem fotográfica da visita, com fotos de Abel Barreto e Paulo Domingues) e, enquanto as pernas (e o ar!) estavam frescas subiu o íngreme caminho que segue quase paralelo ao vale nº 2, em direcção à propriedade aqui adquirida pela Quercus em 2006. A paisagem da subida era um pouco desoladora, claro, mas deu alento aos participantes a informação de que a maior parte dela se encontra num terreno onde o projecto tem boas perspectivas de vir a intervir num futuro próximo. Cerca de 650 metros depois [1] e de um desnível de 100 metros vencido, finalmente a chegada à propriedade da Quercus, que deve ter parecido aos visitantes um autêntico “paraíso”. O que aqui podia ser avistado era com efeito radicalmente diferente da paisagem com a qual os primeiros voluntários de Agosto de 2006 se depararam. E alguns deles estavam de visita neste dia!

Aqui, ainda junto ao vale, o matagal é por vezes denso mas diversificado, e no seu seio crescem já os carvalhos, os medronheiros e os sobreiros que aqui foram plantados a partir de 2007. Também os pinheiros, mas esses por “iniciativa própria”.

Não foi longo o percurso no “paraíso” porque logo na marca dos 730 m [2] foi necessário regressar ao eucaliptal para continuar a subida: é que a propriedade da Quercus tem muito poucos caminhos. Afinal, as plantas e os animais não precisam deles, não é? O eucaliptal agora atravessado também será descontinuado dentro de alguns anos, pelo que os visitantes puderam já começar a imaginar como será no futuro! Mas nos 1225 m da partida [3] estávamos de regresso à propriedade da Quercus e foi possível continuar a observar coisas interessantes: o pico de floração do matagal já tinha passado, mas ainda assim chamavam a atenção as manchas de tomilho, mesmo na própria rocha do caminho, as cistáceas da espécie Halimium ocymoides, a transbordar de folhas amarelas, os tojos da espécie Genista triacanthos e as plantinhas de Gladíolo-silvestre (Gladiolus illyricus). Logo ali [4] avistou-se ao longe um bando de folosas-do-mato (Sylvia undata).

Sylvia undata, para reconhecimento
Sylvia undata, para reconhecimento

Mas ainda era necessário continuar a subida, o que se consumou a 1425 metros da partida [5], agora já a cerca de 390 metros de altitude. Já se tinha vencido um desnível de 215 metros! Mas para compensar, o grupo pôde olhar para ocidente e contemplar a paisagem lá do alto, vislumbrando tão longe como a Serra do Buçaco ou mesmo a Serra da Boa Viagem! O Feridouro parecia também já uma ilha distante, lá em baixo!

Agora o percurso era essencialmente plano, só atingindo a cota dos 400 metros [6] junto a um sobreiro resistente ao fogo de 2005 que ali continua a desafiar o tempo e as difíceis condições deste solo, pois que agora a paisagem é essencialmente rochosa, por isso neste troço nunca chegaram a ser plantados eucaliptos. É aqui que se podem vislumbrar os mais belos exemplos de vegetação rupícola, e, sempre que o solo melhora um pouco, o matagal, onde agora a urze dominante é a urze-das-vassouras. E claro, o medronhal, sempre devidamente acompanhado pelo lentisco (Phillyrea angustifolia). Já podiam ser observados os medronhos verdes que no final do ano deliciarão os visitantes, mas para já, a delícia era apenas para a vista… É também nesta área que pode ser observada a erva-língua (Serapias lingua), a única orquídea desta paisagem, mas esta tem de ser mais bem procurada e e no momento certo.

Nos 2030 m da partida [7] começa uma zona ainda bastante invadida com Acacia longifolia, que já muito trabalho tem dado a voluntários e profissionais. Mas também neste ponto se podem observar em Abril as belissimas campainhas-amarelas (Narcisus bulbocodium). Um pouco mais à frente observaram-se várias osgas (Tarentula mauritanica) escondidas debaixo de uma pedra solta, notavelmente camufladas pela cor que exibiam, relativamente à das pedras. Entramos no vale nº 3, e entre este e o seguinte observa-se um formoso carvalho (Quercus robur) num sítio inesperado: demasiado rochoso para poder suportar tanta formosura, e no entanto, ele lá está, a surpreender.

Na cabeceira do vale nº 4 [8] encontram-se os primeiros carvalhos plantados pelo projecto, em 2010, que se estendem encosta abaixo, por uma área que já foi eucaliptal. O mesmo eucaliptal que ainda está ali logo ao lado, e que é uma faixa de antiga plantação com uns 50 metros de largura ao cimo e perto de 100 lá em baixo, junto ao caminho principal da propriedade. O projecto gostaria de ver esta faixa renaturalizada para dar mais unidade a esta área. Oxalá os nossos amigos da Altri Florestal pensem o mesmo quando decidirem cortar estes eucaliptos!

Depois do vale nº 5, que já foi semeado duas vezes com bolotas de carvalho (este ano avaliaremos o sucesso da 2ª, já que a primeira não foi muito bem sucedida), a visita prosseguiu com a descida pelo vale nº 6 [9], afastando-se da demarcação oficial, que leva os visitantes até à cabeceira do monte, permitindo-os vislumbrar os extensos eucaliptais da freguesia de Agadão (!) e depois descer pela Casa de Santa Margarida. Mas, como a hora de almoço se aproximava rapidamente, decidiu-se não fazer essa parte, que acrescentaria mais 1 km ao percurso. Assim, desceu-se o monte por uma calçada ainda em bom estado até ao entroncamento para Belazaima-a-Velha [10], vislumbrando, lá em baixo, o Ribeiro de Belazaima e as manchas de carvalhal que o projecto aí procura recuperar.

À chegada ao vale nº 7 [11], o percurso afasta-se do caminho para Belazaima-a-Velha (por enquanto não há lá muito para ver, para além das ruinas das antigas casas) e segue o vale nº 7, agora ao longo da extrema entre a mata da Altri Florestal e as pequenas propriedades privadas que envolvem este vale. A sombra era agradável, mas a paisagem de eucaliptos e mimosas, que ocupam densamente o vale, clama urgentemente por intervenção, que deverá começar em breve com uma “sondagem” junto dos proprietários.

Em [12] o percurso deixa o caminho e segue em trilho até ao Ribeiro [13], onde uma ponte junto a um grande carvalho que sobreviveu a todos os cataclismos deste lugar permitiu uma agradável intimidade com o Ribeiro, 4,5 Km depois da partida. Aqui começa um conjunto de pequenas propriedades adquiridas pela Quercus a proprietários privados, permitindo a recuperação paisagística do Ribeiro ao longo de ambas as margens, um processo que contudo levará muitos anos até se poder considerar maduro. Por agora, as árvores plantadas a partir de 2010 lá estão, às vezes já com quase 3 metros de altura, outras vezes bastante menos. Nas margens mais rochosas ainda se podem observar manchas de rebentação de eucaliptos e mimosas, mas nas mais acessíveis os progressos são notórios. À chegada ao único troço de galeria ripícola que sobreviveu no Ribeiro [14] pode-se observar em ambas as margens uma das “joias da coroa” do projecto: um carvalhal de rebentação de toiça que, com a preciosa ajuda da massa voluntária, com relativa rapidez (uma década) aqui criará uma sombria e fresca mata autóctone.

Mas logo ali se tomou um caminho diferente do oficial: em vez de seguir pelo antigo caminho de ligação entre as duas Belazaimas, o percurso desceu de novo ao ribeiro por um trilho, para o passar pelas pedras de uma antiga represa, que alimentava uma levada de rega. Nesta descida uma pedra traiçoeira levou um visitante ao chão, produzindo alguns ferimentos e escoriações (esperemos que se tenha recomposto entretanto). A seguir o percurso fez-se ao longo da própria levada, agora assoreada, em grande proximidade com o Ribeiro e a densa vegetação de carvalhos e salgueiros que aqui se desenvolve.

Em [15], nova área de antigas terras agrícolas de Belazaima-a-Velha agora plantadas com espécies autóctones, tendo-se aqui observado Campanula lusitanica, e o caminho a continuar ao longo do Ribeiro até as terras se acabarem e este ter de novo de ser atravessado [16], pois que não é possível continuar pela rochosa e inclinada margem direita. Aqui se voltou ao percurso oficial, que em [17] entra de novo em eucaliptal, para agora se percorrer cerca de 1 km ao longo de uma margem muito invadida por mimosas: na margem esquerda, a propriedade da Altri florestal, onde a intervenção já decorre desde 2008, mas muito dificultada pelas características do terreno, e agora a margem direita, com mimosas e eucaliptos, mas onde foi possível começar a intervir desde 2012, e que felizmente se pode dizer já que será uma margem a renaturalizar inteiramente, quando o eucaliptal for cortado, dentro de poucos anos. É este o percurso do “pé torto”, uma volta apertada do rio [18], que desenha no terreno a forma de um pé (torto!).

Aos 6340 m da partida [19] termina o eucaliptal e é também a extremidade a jusante da mata da Altri florestal. Aqui se econtra uma pequena área de cerca de 3000 metros quadrados, de onde o eucaliptal foi removido em 2012, e que se encontra no início do seu processo de recuperação. As bolotas aqui semeadas no último Outono parecem ter germinado com abundância! Uma nova ponte a sério permite a passagem para a outra margem, e agora, até ao Feridouro, é sempre eucaliptal, mas vislumbrando-se através das varas altas uma mancha de carvalhos grandes que sobreviveu ao fogo de 2005. Há aqui uma extensão de mais de 200 metros de margem que tem esperanças de ser recuperada num futuro próximo, mesmo mais do que esperanças, quase certezas! Depois de se ter atingido o caminho principal de acesso à mata da Altri florestal [20], foi caminhar com brevidade para o Feridouro, pois que a fome já apertava. Aos 7100 metros da partida [21] chegava-se ao asfalto da aldeia, no sopé do vale nº 2, e às casas aqui gostosamente recuperadas. O acolhimento na aldeia foi caloroso, o que ajudou os visitantes a subir até à Capela, agora cansados e com fome. O circuito completou-se aos 7400 metros do ponto de partida!

Um grupo já reduzido ainda almoçou no parque de merendas de Belazaima, onde se tirou a foto de despedida, e outro ainda mais reduzido ainda fez pequenas explorações à tarde, que culminaram no “sobreiro gigante”, agora “vestido” de nova e delicada folhagem. Oxalá tenha sido uma jornada interessante, instrutiva e motivadora para todos os participantes!

Agora, voltam os trabalhos, já no fim de semana de 8 de Junho. Até breve!

2 Replies to “Jornada de visita de 25 de Maio”

  1. Relato fantástico que me faz lamentar ainda mais não ter estado presente devido a um infeliz incidente na véspera. Resta-me deixar a sugestão e alguma esperança que a caminhada se repita muito em breve para quem perdeu a oportunidade, ou a queira repetir.
    Cumprimentos e até um dia destes.

  2. Obrigado, Susana pela apreciação.
    Quanto à esperança,… de facto só se tem realizado uma jornada de visita por ano, mas quem sabe… Podem sempre acontecer surpresas!
    Uma saudação,
    Paulo

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