No Sábado, 3 de Setembro, 5 anos (e dois dias!) depois de se terem iniciado os trabalhos deste projecto com um Campo de Trabalho Voluntário de 5 dias, um pequeno grupo de voluntários voltou ao Cabeço para uma jornada de celebração. Claro que, num certo sentido, todas as jornadas são de celebração: da vida, da beleza, da tenacidade… Mas esta teve um sabor especial e não apenas num sentido metafórico…
Antes da subida ao monte, lavaram-se frascos, a fim de escorrerem durante o dia, para o enfrascamento do mel que ainda aguardava nos potes de armazenamento. Depois, como prometido, prosseguimos para o exacto ponto onde os primeiros voluntários de há 5 anos rasgaram as primeiras luvas a arrancar as primeiras háqueas… A abundância de háqueas nesse ponto devia-se a ser aquele local a extrema entre as propriedades da então Celbi (hoje Altri florestal) e um terreno privado que seria nesse ano adquirido pela Quercus para fins de conservação. Ora essas plantas exóticas de características invasoras tinham sido plantadas ao longo de muitos dos quilómetros que definem os limites dessa propriedade, constituída como tal na primeira metade do século XX, quando estas terras de uso comunal foram privatizadas.

Ao chegar, a equipa constatou que ainda havia muitas háqueas salpicando a paisagem, quase não se distinguindo do matagal nativo que entretanto ocupou o terreno. Também a acácia-de-espigas mantém ainda uma presença bem visível embora não em formação densa. Mas, antes de pôr mãos ao trabalho havia ainda que sentir bem todo este entorno: cheirar a terra húmida, revitalizada pelas chuvas dos últimos dias, admirar a vida que se aferra a estas terras muito pobres como se ricas lhe parecessem, inspirar o ar puro que até aqui transporta a frescura do Oceano, apreciar o horizonte que se espraia pelas terras da Bairrada, perdendo-se entre as serras do Buçaco e da Boa Viagem a sul e a Ria de Aveiro mais para norte, colher os raios de um sol filtrado pelas brancas nuvens, antecipando a chegada do Outono.

Depois, pelo resto da manhã, ferramentas nas mãos, a equipa dedicou-se ao trabalho de corte das plantas de háquea-picante e acácia-de-espigas. Felizmente a háquea tem uma madeira muito mole, pelo que o tesourão é uma ferramenta eficaz mesmo em plantas já de uma certa dimensão. Já as acácias requerem em geral o uso de uma motosserra pequena. Pelo meio ficaram várias observações interessantes como uma lagarta que adoptou uma posição defensiva e uma aranha bem colorida…

O almoço tomou-se já a caminho de outro local, junto aos medronheiros carregados de frutos ainda por amadurecer que por ali existem com abundância. Apesar do seu (dos frutos) ar descorado, as voluntárias deixaram-se tentar, e na falta de frutos doces, parece que se contentaram mesmo com os “meio-doces”, se é que não eram de facto amargos!

Um passeio “digestivo” incluiu também uma acção de recolha de frutos de lentisco, que já se encontram maduros, a fim de se extrairem sementes. Uma observação inesperada foi a das campainhas-de-Outono, essas pequenas e delicadas flores que há quase seis anos anunciaram o regresso da vida ao monte após a voragem das chamas, e que agora, acordadas pelas abundantes chuvas deste final de Verão, surgiram profusamente mais cedo do que é habitual. Também a mais “humilde” das urzes, a Calluna vulgaris, se prepara já para a sua floração Outonal (como sabemos, por estas terras, o Outono é uma segunda Primavera).

À tarde, a equipa desceu do monte até ao vale do Ribeiro, acenou aos fantasmas que ainda habitam as ruinas de Belazaima-a-Velha, arrepiou-se com a agressividade das mimosas ao longo do antigo caminho de acesso ao mundo destas povoações outrora remotas, e parou numa das últimas áreas de intervenção do projecto: a última área de plantação do último Inverno. Aí o panorama ainda é muito sério, com as mimosas a ocuparem agressivamente as margens do Ribeiro e muita lenha queimada que, para além de estorvar, dá um terrível aspecto ao curso de água. Mas, por outro lado, a plantação foi muito bem sucedida, e, ainda que aqui seja necessário um trabalho quase contínuo de controlo da vegetação espontânea (fetos e silvado), que rapidamente sufoca qualquer árvore de crescimento lento, podemos, por este ano, respirar de alívio.

Durante umas duas horas a equipa arrumou lenha, cortou mimosas e restos de eucaliptal, e limpou silvado e fetos. As chuvas recentes tinham avivado o Ribeiro cujas águas já corriam abundantes e apetecia ficar até ao serão, misturando as vozes com o crepitar das águas, deixando flutuar os pensamentos na neblina e estender os corpos na terra húmida. Mas não podia ser: estava o mel à espera para ser enfrascado… e provado.

Por isso, reabastecida por umas doces maçãs, a equipa rumou a casa, onde deu início ao enfrascamento, contando com uma ajuda adicional. Assim se encheram frascos de 0,5kg, 1kg e 200g. Tudo correu como previsto, excepto o tempo disponível, que infelizmente não “esticou” para conter relaxadamente todas as experiências deste dia. Por isso, quando se passou à prova, que foi também um brinde aos 5 anos de existência do projecto, já não houve muito tempo para saborear o precioso nectar…

Mas afinal, os cinco anos já se haviam celebrado ao longo de todo o dia, e quanto ao mel, as voluntárias teriam oportunidade de o saborear demoradamente em casa, pois que tiveram direito a um pequeno frasco de 200g! Eis pois aqui uma primeira forma de obter um frasco de “Mel Cabeço Santo”: participar em jornadas voluntárias! Mas sobre este assunto (como obter um frasco de mel Cabeço Santo) ainda haverá um escrito separado, pois que este já vai longo e os mais impacientes poderão não ter chegado até aqui.

Aqui (http://www.flickr.com//photos/cabeco_santo/sets/72157627476440943/show/) poderão ver estas e outras fotos desta memorável Jornada de Aniversário (sugestão de visualização: tela cheia + Mostrar informações).
Até breve!
P. D.