Jornada de 17 de Maio

No passado Sábado, embora sem voluntários, foram realizados alguns dos trabalhos previstos. De manhã foram semeadas as bolotas de sobreiro, cerca de 460, com o objectivo de obter plantas para as plantações no próximo ano, e, muito em particular, plantar a área de sementeira destruída pelos javalis (1). As que tinham já sido plantadas em tabuleiros por altura da sementeira de campo encontram-se agora já com um palmo de altura, mercê das condições de estufa (2). Também os carvalhos crescem a bom ritmo (3).

(1) bolotas de sobreiro hoje semeadas (tabuleiro de 40 plantas) (2) Sementeira recente em tabuleiro de 20 plantas e plantas mais antigas (3) Carvalho roble em tabuleiros de alvéolos

À tarde foi tempo de ir até ao Cabeço Santo. Estava previsto o trabalho de recolha dos tubos já sem uso, mas, havia tanto para ver,… e fotografar! Aproveito para partilhar com os visitantes deste blogue algumas dessas observações, embora nunca seja excessivo acentuar que no pequeno ecrã não se reproduzem as texturas, os cheiros, os movimentos, os sons,… e tudo o resto que nem pode ser descrito porque só pode ser sentido!

O amarelo dos tojos da espécie Genista triacanthos domina ainda as zonas onde o matagal é predominante, dando à paisagem uma tonalidade amarela, visível mesmo da povoação (4). Nos locais onde o medronhal é mais vigoroso, como na propriedade da Quercus, os medronheiros atingem já mais de 2 metros de altura, mas ainda não escondem os ramos queimados em 2005 (5). É interessante ver a extrema da propriedade da Quercus e de como a paisagem de cada um dos lados causa uma impressão diferente (6).

(4) Paisagem marcada por Genista triacanthos (5) Medronhal na propriedade da Quercus (6) Extrema da propriedade da Quercus

A flora rupícola, onde são predominantes as plantas de Sedum album (arroz-dos-telhados), atinge agora a sua máxima expressão, revestindo as rochas de um tapete de flores brancas (7). Mas claro, não é uma “monocultura” de arroz. Chama particular atenção na perspectiva anterior outra flor branca: é Orithogalum concinnum, uma planta já apresentada num post anterior. Mas vale ainda a pena olhar mais de perto as pequenas e delicadas flores de Sedum album (8), ou a forma como se distribuem pelas rochas, aproveitando pequenas depressões, às vezes minúsculas depressões (9).

(7) Vegetação rup�cola com predominância de arroz-dos-telhados (8) Detalhe de Sedum album (9) Pequen�ssimo canteiro natural de arroz-dos-telhados

Uma planta que vale sempre a pena repetir é o rosmaninho (Lavandula stoechas) (10), não concordam? Oh! Logo ali está um canteiro de plantas já conhecidas (batón-azul) mas numa flor está uma borboleta, e parece estar a gostar! (11-12) É uma Melitaea athalia, ou… será uma Melitaea deione? Há algum especialista que se pronuncie?

(10) Rosmaninho em flor (11) Melitaea em batón-azul (12) Melitaea em batón-azul

Agora chego ao terreno de sementeira das bolotas de sobreiro. Os tubos aí estão, para serem recolhidos, mas já lá vamos. Aqui uma planta que já não via há anos no Cabeço Santo: o hipericão (Hypericum perforatum) (13), planta de aplicações medicinais, que aqui deve ter aparecido para ajudar a curar esta área que já foi eucaliptal. Mas é interessante ver como apenas um ano depois da remoção dos eucaliptos a diversidade de plantas já é maior. Logo ao lado, uma planta que é nesta zona muito abundante e que não consigo identificar (falta de um botânico voluntário!) (14). Muitas vezes misturada com ela aparece Anarrhinum bellidifolium, também uma bela planta que é “mel” para as abelhas (15)! Logo ali, uma cistacea de floração relativamente efémera, e que só aparece com abundância em certos locais: Halimium ocymoides (16). Ainda na mesma zona, uma outra planta de flor amarela, que num olhar rápido se confunde com a anterior, mas que de facto não lhe deve ser aparentada (17). Incluo também uma foto das folhas (18). Pode ser que algum leitor a possa identificar!

(13) Hipericão (14) Planta não identificada (14) Anarrhinum bellidifolium mais a anterior

(16) Halimium ocymoides (17) Flor não identificada (18) Folhas da flor não identificada

Ainda mais duas plantas a merecerem destaque por estas paragens: Lotus corniculatus (19) e cuscuta, uma planta parasitária que não lança raízes no solo mas apenas sobrevive sobre as restantes (20).

(19) Lotus corniculatus (20) Cuscuta, uma planta parasitária

E agora finalmente ao trabalho! O ingrato trabalho de recolher tubos de protecção que deviam estar a proteger bolotas semeadas! Um balanço global aproximado é o seguinte: de uns 300 tubos colocados, foram encontradas uma dúzia de plantas sem tubo e sem bolota, e também uma dezena de tubos não deslocados, alguns deles já com plantas emergentes. Os tubos poderiam ter sido deixados no terreno para a plantação, mas como o plástico se degrada com a radiação solar, ficam melhor guardados.

Claro que, com as observações, já não foi possível ir recolher os tubos dos carvalhos. Terão de ficar para outra jornada. Também porque no caminho de regresso a Belazaima ainda havia umas observações a fazer. Só há um mês de Maio por ano!

Já com as cores “quentes” de um sol poente, ali, numa das que já foi uma das áreas mais afectadas pela Acacia longifolia, encontrei uma bonita planta de gladíolo-silvestre (21), mas havia muitas mais. E, duas centenas de metros à frente um canteiro de singulares dedaleiras (22). Para terminar, uma planta que não costumava encontrar no Cabeço Santo, mas mais nas proximidades dos carvalhais: a belissima Linaria triornithophora (23), conhecida pelo nome comum de esporas-bravas.

(21) Glad�olo silvestre (22) Dedaleira (23) Esporas bravas

E assim, concluída mais uma jornada de trabalho e de observação, desta vez tendo apenas por companhia as plantas, os insectos, as aves e o vento, regressei à “civilização”.

Paulo Domingues

3 Replies to “Jornada de 17 de Maio”

  1. Acho que te falta é um bom guia. Aqui ficam os meus palpites:

    O hipericão (13) não é o androsaemum (Caramba, passas tantas vezes ao pé dos meus e não sabias?!!) É mais parecido com o perforatum, mas também não me parece, além de que pelo menos por aqui ainda não está em flor. Experimenta procurar na base de dados da utad

    A ilustre desconhecida 14 poderá ser o Melilotus alba (?) e a última pode ser outro Halimium ou um Helianthemum, vê aqui para os Halimium. Nos meus guias só vem um ou dois e há muito mais.

  2. O Hypericum foi uma gafe (claro que sabia!!), já corrigi. De resto obrigado. Talvez devesses fazer lá uma visita, claro, nem que fosse só como consultora botânica! Afinal, são só 3 ou 4 km!!

  3. Bem me parecia que o silêncio era sinal de uma jornada solitária. Por sinal, invejavelmente bonita! Parabéns pela tenacidade – a das plantas e a tua.

    Até breve!

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