No dia 3 de Maio foi realizada uma jornada de preparação dos próximos trabalhos a realizar no Cabeço Santo por pessoal contratado, aqui ficando o relato possível dessa jornada, com ilustrações e mapa (1.4MB-pdf) de seguimento! Ela iniciou-se na passagem do vale antes das antigas casas do guarda florestal da propriedade, agora em ruinas. O vale (1) encontra-se em muito mau estado mas não foi mobilizado para a nova plantação: uma esperança. Um pouco mais à frente, junto às casas, tem-se uma perspectiva da zona de conservação que fica em frente (2). Subindo a corta-mato nessa zona de conservação, que abrange dois vales, tem-se uma perspectiva da paisagem envolvente (3), observando-se zonas recentemente mobilizadas para novas plantações, zonas de ocupação antiga onde o eucaliptal será mantido, zonas de conservação ainda muito ocupadas por eucaliptos e outras exóticas e, finalmente, zonas rochosas que já tinham pouco ou nenhum eucaliptal. Algumas destas zonas tinham pinhal que não se regenerou naturalmente após o fogo. Enfim, uma paisagem retalhada, sem raridades nem monumentos, que aparentemente apresenta poucos argumentos para que alguém a queira cuidar e recuperar. Excepto um: gostar dela, amá-la…
Mais acima, uma zona onde a mobilização para plantação não chegou onde estava previsto (4), mas possivelmente porque as condições do terreno não o justificavam. Ainda esperamos que possa ser incluída na zona de conservação. Logo acima, já no caminho recém aberto, perspectiva do vale (5), densamente (assustadoramente) invadido por Acacia longifolia e eucaliptos. Já na zona de conservação, perspectiva do matagal, com a mancha de antigo eucaliptal a manter, em fundo (5a).
Depois de uma excursão pelo cume do monte sem memória fotográfica de valia, regresso ao antigo caminho florestal para uma visita às zonas já trabalhadas. Aqui os motivos de interesse aumentam! Logo ali, constatava-se que o rosmaninho já estava em flor, atraindo o seu cortejo de insectos e admiradores (6). As abelhas eram em grande número, mas quem chamou mais a atenção foi uma borboleta (Iphiclides feisthamelii) [7-8] que rodopiava em torno de uma flor de rosmaninho. Estava tão absorvida pela flor que se deixou fotografar à vontade! Um pouco mais à frente, uma planta de urze-das-vassouras em flor (9). O que é espantoso nesta planta é a sua densidade de flores, tão minusculas que vistas ao longe não se distinguem umas das outras, parecendo que a planta ficou pintada de uma tonalidade avermelhada. Poucos passos depois um pequeno jardim num banco rochoso (10). Nenhum jardineiro ousaria criar um jardim com estas mesmas espécies em tão pouco solo e sem rega. E no entanto, elas estão aí a testemunhar a insondável sabedoria da natureza!
Chegamos agora a uma zona já intensamente trabalhada no ano passado, colhendo uma perspectiva (11). Destacam-se as acácias queimadas ainda em pé, mas aqui o trabalho de remoção das plantas emergentes já foi largamente realizado. Ainda há sanganho-mouro em flor (12) mas o pico de floração já foi claramente ultrapassado. No intervalo de apenas uma semana! Vejam bem: uma ausência de apenas duas semanas teria sido o suficiente para se perder esse maravilhoso panorama das manchas de sanganho-mouro em flor! A paisagem no seu todo ganha agora uma tonalidade amarela, mas por uma razão diferente da de há umas semanas: na altura era devido à floração da carqueja e de tojos do género Ulex; agora é devido à floração de tojos do género Genista (13), que aqui são abundantes. Logo ali, um bonito canteiro silvestre, cheio de flores de batón-azul (Jasione montana) (14).
Mas ainda estava para surgir um panorama de sabor amargo, agora sem responsabilidade humana (e contudo?!…): a sementeira de bolotas de sobreiro que tinhamos realizado em Fevereiro e que contou com uma generosa contribuição voluntária tinha sido destruída. Simplesmente assim: totalmente destruída. Logo foi empreendida a busca dos culpados, pela análise dos vestígios: tubos espalhados pelo terreno, não muito longe dos sítios de sementeira; perfurações do solo em muitos sítios de sementeira; cascas de bolota em alguns; meia dúzia de plantas de sobreiro saindo do solo… sem bolota (15-17). Os “culpados” não foram difíceis de identificar: javalis. Javalis esfomeados e “espertos”, que logo que aprenderam que dentro dum tubo se encontrava uma bolota, mesmo enterrada, não descansaram enquanto não arrancaram todos os tubos e remexeram à procura do precioso e raro alimento. Não são, com efeito, raras por estas paragens as notícias de estragos feitos pelos javalis na agricultura, e nas poucas áreas de soutos e carvalhais existentes eles remexem o terreno à procura de castanhas e bolotas. Não vamos aqui aproveitar para edemoninhar os javalis: eles são uma vítima da perda, fragmentação e empobrecimento dos habitats, “respondendo” de forma nem sempre equilibrada. De qualquer forma a lição a tirar é a de que não é viável semear, mesmo com tubos de protecção. A plantação será a solução. Ainda bem que ainda estamos a tempo de semear bolotas de sobreiro em tabuleiros de alvéolos para plantação no próximo Outono/Inverno. Depois de muito procurar, foi possível encontrar um tubo no lugar, com uma planta em emergência (18), a excepção que confirma a regra! Felizmente ali perto estava uma planta de Ornithogalum concinum (19) (espero não estar errado, botânicos, ajudem!), planta com estatuto de protecção, que ajudou a amenizar a momentânea depressão.
Mas, investigação realizada, o melhor era voltar rapidamente ao percurso. Logo ali estava a vegetação rupícola a preparar a floração (20). Ah! Falta referir que os medronheiros estavam, em geral, no seu lugar. Alguns secaram, mas estimo que 70% deles pegaram e encontram-se de saúde (21). Por falar em medronheiros, já é possível verificar que alguns deles (mas os dos rebentos, após o fogo) vão frutificar este ano, mas a maioria ainda não o fará (22). No limite norte da caminhada uma perspectiva da paisagem, com o terreno da Quercus à esquerda e o espaço semeado e des-semeado à direita (23).
Já no caminho de regresso, novo motivo de preocupação: muitas plantas de acácia-de-folhas-longas apresentam já abundantes vagens, o que significa que vai recomeçar em força a produção de sementes (24).
Ainda um salto ao local onde foram semeados os carvalhos para constatar o inevitável: sementeira igualmente destruída, os mesmos indícios. Esperemos que isto não deixe os voluntários ainda mais desanimados. Foi a primeira vez que se utilizou aqui a técnica dos tubos em sementeira (noutros locais, onde não aparecem javalis, é viável), e com as falhas, o que temos de fazer é aprender com elas e continuar em frente: ânimo voluntários!
Para terminar uma passagem por aquela cascata (25) onde sempre vale a pena parar uns minutos… para constatar que se encontra quase escondida pelos eucaliptos e mimosas que aí crescem! Por pouco tempo, esperemos: será uma área prioritária de intervenção.
Paulo Domingues
gostava que falasem sobre a flor arroz- dos-telhados e onde se encontram mais
Olá,
É uma planta da flora rupícola (das rochas) e encontra-se sobre rochas e zonas com pouco solo, por isso ocorrendo também em velhos telhados, onde se acumularam poeiras que são suficientes para a planta sobreviver.
Paulo