Este Campo de Trabalho Voluntário, realizado a 10 de Março de 2007, tinha como objectivo fazer uma primeira avaliação da sementeira de bolas de sementes realizada no 3º CTV e fazer uma plantação de árvores na área antes eucaliptada do terreno adquirido pelo FCN da Quercus. Inscreveram-se 10 + 1 participantes, sendo que o “1” era suposto ser um acompanhante de seu pai, com a idade de 7 anos. Mas a verdade é que o “acompanhante” se revelou um verdadeiro participante, pelo que será mais justo dizer que havia 11 participantes inscritos. No entanto um deles faltou, pelo que ficaram 10 participantes efectivos.
Três participantes saíram de Aveiro pouco depois das 8 horas da manhã e um foi “apanhado” pelo caminho, pelo que, pouco depois das 9 horas, já todos se encontravam reunidos em frente da Junta de Freguesia de Belazaima. Felizmente, um dos participantes tinha um veículo todo o terreno, o que permitiu levar algumas pessoas para o Cabeço Santo e aliviar a carga da carrinha de caixa aberta de serviço para estes CTV’s. Porque esta, aliás, já se encontrava algo carregada: 5 tabuleiros de alvéolos com sobreiros e carvalhos, ferramentas e utensílios, adubo, água, alimentação para os participantes… Já uns dias antes tinha sido deixado em local próprio um monte de estrume de cavalo semi-compostado. Subiu-se o cabeço a partir da estrada de Agadão e, chegados à extrema norte do terreno do FCN, foi feita uma explanação dos objectivos de trabalho e seus antecedentes, já que todos os participantes eram estreantes nestes Campos de Trabalho, excepto um, mas que ainda não tinha vindo ao monte. Depois os participantes desceram a pé até à zona a plantar, já que apenas a carrinha de caixa aberta seria também levada para lá, por um caminho muito pouco próprio.
Chegados ao local, começaram os trabalhos. Dado que a área tem uma forte pendente para sul, foi planeado dar uma forte predominância à plantação de sobreiros, plantando carvalhos apenas em torno do vale secundário da encosta e ao longo do vale principal. As árvores a plantar foram obtidas em viveiro local por germinação de bolotas também colhidas localmente e semeadas em tabuleiros de alvéolos, mantidos em condições de estufa durante o Outono-Inverno. A plantação fez-se começando por sondar o solo em busca de um sítio com boas condições, já que, mesmo esta parte do terreno, embora já não tão pedregosa como a parte com matagal e medronhal, ainda tem muitas pedras. Adiciona-se estrume de cavalo à terra removida, coloca-se um pouco de um adubo mineral rico em fósforo e cálcio no fundo da cova e mistura-se com a terra por meio de uma forquilha de dentes direitos, e finalmente traz-se a planta, com cuidado para não desfazer o torrão, colocando-se a terra de novo. Este procedimento, foi por mim utilizado no ano passado na plantação de carvalhos, sobreiros e medronheiros em áreas antes eucaliptadas, com bons resultados (tanto quanto se pode avaliar após um ano). Embora, de um ponto de vista de restauração ecológica, se pudesse pensar numa intervenção mais “natural”, isto, é, sem fertilização, a verdade é que esta, ao permitir um maior crescimento das árvores durante os primeiros anos, diminui também o grau de vulnerabilidade (ao fogo, em particular) que a paisagem apresenta durante o período de predominância do matagal.





Ao chegar a hora do almoço já se tinha plantado um bom número de árvores, embora parte da equipa se tenha dedicado também a eliminar rebentos de eucalipto, que abundavam já nos tocos dos eucaliptos cortados o ano passado. O almoço, à base de sandes, bolos de bacalhau e especialidades vegetarianas (para os adeptos), foi tomado junto à carrinha e depois deste seguiu-se um período de repouso junto à linha de água temporária, antes da cascata, já em pleno matagal/medronhal. No caminho para lá foram observadas algumas plantas, com algumas explicações aos participantes. De referir em particular os dois exemplares de campainhas-amarelas já em flor, uma belíssima planta de erva-das-sete-sangrias, o cornichão, a cila, e a carqueja, também já em flor. Depois de um período de repouso e alguma conversa, um relaxante banho de pés para alguns e o constante sussurrar do regato temporário, o grupo voltou ao trabalho, continuando a plantação das árvores e o corte dos rebentos de eucalipto. E assim se passou o resto da tarde, até que todas as árvores trazidas (cerca de 100) foram plantadas. Como se previa tempo seco para os dias seguintes um pequeno grupo de participantes ainda regou a maior parte das árvores plantadas com um pouco de água apanhada das escorrências superficiais e do vale principal. Os restantes elementos foram subindo a encosta a pé já que, de qualquer modo, só seria possível levar sobre rodas um pequeno número.
Há também que acrescentar algo relativamente ao outro objectivo para este CTV: fazer a avaliação da sementeira de bolas de sementes. Em primeiro lugar há que reconhecer que não foi encontrada nenhuma plantinha com origem em bolas de sementes. Por outro lado, acontece que as bolotas naturalmente deixadas no solo no Outono lançam uma radícula quase de imediato mas poderão só lançar parte aérea muito mais tarde, eventualmente na Primavera, ao contrário do que acontece com as bolotas semeadas em estufa, que lançam a parte aérea quase de imediato. Pode até acontecer que uma bolota que lançou uma radícula suficientemente profunda e que depois disso seja comida por um roedor lance uma parte aérea a partir dessa radícula, mesmo sem bolota. Tive este ano oportunidade de observar isso na própria estufa pois que foi “atacada” por uma ou várias famílias de ratos que fizeram algum estrago entre as bolotas de carvalho (curiosamente, não tocaram nas de sobreiro, mas no campo não são tão “esquisitos”). Deste modo, admite-se que seja ainda demasiado cedo para fazer uma avaliação da sementeira, embora as abundantes chuvas que caíram entre Novembro e Dezembro tenham certamente desfeito a protecção que a envoltura das sementes tinha por missão criar. O que terá acontecido a seguir, talvez os próximos meses ainda permitam adivinhar.

O sol punha-se já no horizonte quando o grupo se reuniu de novo no caminho florestal da Celbi para as tradicionais “fotos de família”. Desceu-se o monte pelo Feridouro, mas o estado do caminho, estragado pelo movimento de camiões e pela água, ainda pôs os cabelos em pé ao Raul, e muita lama no seu veículo todo o terreno. Como acabou por ser um percurso demorado, era já noite quando o grupo se reuniu em frente à Junta de Freguesia de Belazaima para as despedidas.
Paulo Domingues