1º dia, Sábado, 28 de Outubro
Colhidos os participantes em Aveiro, rumou-se a Belazaima com 10 minutos de atraso sobre o horário previsto. Chegados a Belazaima houve que fazer ainda algumas preparações, conferir as presenças, tentar contactar os inscritos ausentes… De referir, como nota negativa, a falta de dois participantes sem qualquer aviso. Recolhido o almoço e o lanche, eram já 10:30 horas quando se iniciou a viagem para o Cabeço Santo. Tentou-se ir pelo Feridouro, seguindo o caminho de Belazaima-a-Velha, mas, logo a seguir ao Feridouro se verificou que o caminho se encontrava obstruído na mata da Celbi, devido a trabalhos de remoção de madeira. Foi então necessário voltar para trás e subir a encosta a partir da estrada para Agadão.
Chegado ao Cabeço, o grupo reuniu-se próximo da extrema sudeste do terreno que será adquirido pelo Fundo de Conservação (F. C.) da Quercus, e aí ouviu uma pequena explicação acerca dos objectivos do trabalho e da sua razão de ser. Depois iniciaram-se os trabalhos, que se desenrolaram entre os terrenos da Celbi e da Quercus, e que incidiram sobretudo nas plantas de origem seminal de Acacia longifolia e também de Hakea sericea. Mas, logo chegou a hora do almoço e o grupo fez uma pausa.
Da parte da tarde os trabalhos evoluíram ao longo da extrema Quercus/Celbi, arrancando grande número de plantas de Hakea sericea, não obstante ao longo desta extrema as plantas mãe dessa espécie serem relativamente raras, devido às características do solo, que não permitiram a sua plantação. Não será excessivo assinalar o valor também simbólico deste acto: plantadas para demarcar e dividir, o arranque dessas plantas exóticas, invasoras e de espinhos agressivos representa também a união de esforços de duas entidades, neste caso a Quercus e a Celbi, para recuperar e conservar um património que não precisa de barreiras mas de actos de união e cooperação.




O calor que se fez sentir durante a tarde, com temperaturas inesperadamente elevadas para a época do ano, tornou a vida difícil, sobretudo aos mais jovens elementos da equipa, que não puderam esconder algum desalento. Também contribuiu para isso a maior dispersão dos participantes pelo terreno, fazendo desvanecer um certo espirito de grupo. A demonstrar isso esteve o facto de, uma vez chegados ao extremo nordeste do terreno do F.C., os participantes terem agora passado a andar em muito maior proximidade, arrancado sobretudo eucaliptos de uma estreita faixa do terreno da Celbi na zona de protecção norte. Aqui, a dinâmica parece ter-se multiplicado, ajudada pela sombra de uns eucaliptos vizinhos, a oeste.
E foi assim que se chegou à hora do lanche, de sumos e pão com marmelada. O calor fez com que o consumo de água fosse muito maior que o previsto, e, por esta altura, já se tinha esgotado a água de beber. Movidos pela sede, alguns elementos decidiram provar a água de uma das muitas correntes de água superficial que agora corriam pelo monte abaixo. Movidos pelas notícias de que era boa, e não obstante alguns receios, quase todos os participantes terão bebido pelo menos um copo. Embora alguns considerassem que sabia a eucalipto, a verdade é que ninguém reportou ter-se sentido indisposto.




Refrescados por este bálsamo da natureza, os participantes voltaram ao trabalho, dividindo-se agora de novo. Os mais jovens continuaram nos eucaliptos, os mais veteranos foram à procura de acácias na zona a nascente do caminho florestal da Celbi. E não tiveram que procurar muito para as encontrar, pois que as novas manchas surgidas após o fogo são anunciadas pelas plantas mãe queimadas, com o seu característico aspecto de tronco descascado.
E assim o dia se aproximou do fim, presenteando os participantes com um bucólico pôr-do-sol, tornado ainda mais magnífico pela elevação do monte sobre as extensas terras baixas do litoral a oeste.

Seguiu-se o regresso à aldeia, já ao anoitecer. Um pequeno incidente com a chave do pavilhão (que não se encontrava no local esperado) ainda ia levando o organizador do campo (e autor destas linhas) aos limites da paciência (embora a responsabilidade pelo sucedido fosse inteiramente sua), mas o caso acabou por ter uma solução elegante. Depois dos fundamentais duches nos balneários do pavilhão, seguiu-se um jantar no restaurante Carioquinha, após o qual nos despedimos dos quatro elementos de Vouzela/Oliveira de Frades que aqui terminavam a sua participação.
Depois do jantar, o grupo, agora reduzido aos escuteiros, reuniu-se no bar do Pavilhão para uma sessão nocturna. Feita uma apresentação oral dos diversos documentos existentes em DVD, o grupo fez a escolha para o serão: o documentário sobre o Endurance! Felizmente que não estavam presentes participantes do 1º CTV…
2º dia, Domingo, 29 de Outubro
O dia iniciou-se com o pequeno almoço no bar do Pavilhão e a recepção aos participantes de Domingo. Ajudado pela mudança de hora legal, o grupo reuniu-se com pouco atraso em relação à hora prevista junto ao pavilhão para dar início à actividade prevista: fazer bolas de sementes. Depois de uma pequena explanação sobre o uso de bolas de sementes no contexto do trabalho de restauração ecológica, foi feita uma demonstração do fabrico da massa para as bolas. A recordar: misturam-se 5 partes de argila com 3 partes de composto, e pode-se ainda adicionar um repelente e bioactivadores. Neste caso a argila usada foi pó de argila vermelha proveniente da aspiração de poeiras de uma empresa de cerâmica. O composto foi proveniente de minhocultura. Embora nesta demonstração nada mais se tenha adicionado, porque não estava disponível, em outras massas para bolas a fabricar este ano usei pimenta branca como repelente e ecto-micorrizas (sob a forma de esporas de fungos) como bioactivador, um produto comercializado sob o nome de AEGIS-Ecto.




Feita a massa, os participantes tiveram a oportunidade de pôr as mãos nela e fazer bolas de sementes. As sementes foram bolotas de carvalho e sobreiro e ainda castanhas. Já tinham sido colhidas há algum tempo e estavam guardadas em areia humedecida, onde rapidamente iniciam a sua germinação. Como aquelas que já se encontravam germinadas não eram apropriadas para fazer bolas, procedeu-se também à sementeira destas em tabuleiros de alvéolos próprios para árvores. Estas plantas passarão o resto do Outono e o princípio do Inverno em estufa e serão plantadas no campo logo que o torrão esteja consolidado e a árvore tenha pelo menos um palmo de altura.


Os trabalhos continuaram até se esgotar a massa para bolas e depois foi necessário arrumar todo o material e os tabuleiros semeados. No programa estava prevista ainda para a manhã a ida ao Cabeço Santo para semear as bolas, não as acabadas de fazer, claro, porque ainda estavam frescas, mas outras que tinham sido preparadas previamente. Só que havia um problema: o terreno alvo da sementeira era a parte do terreno a adquirir pelo F. C. que tinha eucaliptos, e só era viável fazer a sementeira quando estes fossem retirados por uma empresa madeireira. O atraso desta nessa retirada fez com que só no 1º dia deste 2º CTV esses trabalhos tivessem sido iniciados. Logo, o terreno ainda não estava disponível. Assim, optou-se por não ir ao Cabeço Santo e semear as bolas num terreno mais próximo (Fonte do Porco) no qual eu estou a realizar trabalhos de restauração ecológica. Deste modo, houve tempo para ir almoçar ao carvalhal da Ponte Nova, e só depois à sementeira. A sementeira faz-se começando por soltar o solo com uma forquilha de quatro dentes rectos, ao mesmo tempo que se sonda a profundidade e, em geral, a qualidade do solo para o efeito. Se for apropriado, coloca-se a bola e cobre-se ligeiramente com solo. Na vizinhança do vale deu-se preferência a carvalhos e castanheiros, na vizinhança do cume, aos sobreiros.


E assim se passou a tarde, até cerca das 17 horas, horário previsto para o fim do CTV. Reunidos de novo no Pavilhão, os participantes lancharam, arrumaram as suas coisas e preparam-se para a partida.
No total houve 21 participações neste CTV, embora apenas 11 nos dois dias de trabalho.
Até a um próximo Campo de Trabalho!
Paulo Domingues