A jornada de 17 de Outubro, integrada na Semana Nacional de Sensibilização para as Invasoras (SNEI) decorreu precisamente numa zona que já esteve completamente absorvida pela presença de mimosas, a mais agressiva invasora da nossa paisagem, mas que, fruto do muito trabalho realizado nos últimos anos, já teve uma evolução muito positiva. Apesar disso, ainda se pode considerar em estado de calamidade.
Assim se reuniu um grupo de voluntários em duplo estado de calamidade: um declarado pelo governo, que convida ao isolamento. O outro, não declarado por ninguém, escassamente reconhecido, mas avassaladoramente presente, que convida à participação e à união de esforços e de vontades.
A área em questão situa-se um pouco a jusante da aldeia do Feridouro, entre os sítios localmente conhecidos como Chousa e Costa, ao longo de uns 200 metros de curso do ribeiro de Belazaima. Essa extensão pode-se considerar delimitada por duas pequenas várzeas, antigas terras agrícolas: a várzea da Chousa, a jusante, e outra pequena várzea a montante.


Toda esta extensão estava em 2015 ocupada por uma mancha muito densa de mimosas grandes, sendo a encosta intermédia (“Costa”) um eucaliptal plantado com formação de socalcos a seguir ao incêndio de 2005, mas dominado pelas mimosas na zona ribeirinha. Estas mimosas foram retiradas por fases. Na várzea da Chousa, onde se interveio primeiro, em 2016, os tocos das mimosas foram mesmo arrancados, e o terreno foi limpo e regularizado, tendo-se lá plantado as primeiras árvores em 2017. Como se trata de um terreno fértil e húmido, o silvado cresce vertiginosamente e exige uma atenção regular, mas as árvores e arbustos lá plantados (carvalhos, freixos, amieiros, ulmeiros, azevinhos, azereiros…) também estão bem implantados. Na encosta e na pequena várzea a montante as mimosas foram cortadas em 2018/19, um processo demorado pela dificuldade em retirar o material lenhoso. De notar que na margem sul do ribeiro existiam várias parcelas agrícolas em socalcos, sem qualquer acesso mesmo por carro de bois, só um carreteiro de pé-posto. Aí muitas mimosas acabaram por ficar no chão, dificultando trabalhos posteriores. A pequena várzea a montante, é claro, ficou “famosa” por aí se ter dado início às sementeiras de bolota de 2019, com honras de reportagem televisiva. Mas aqui, apesar de tudo, em particular das germinações massivas de mimosas que vão ocorrendo, todos os trabalhos estão facilitados pela facilidade de acesso e pelo pequeno declive. Já na encosta a jusante, entre as duas várzeas, as coisas são muito mais complicadas: declives elevados, ramadas de mimosa em grandes quantidades depositadas no terreno, silvados impenetráveis, e, é claro, as mimosas, que tentam a todo o custo permanecer num local que já foi delas e onde deixaram abundantes “recursos” de re-invasão: raízes, toiças e sementes.


Foi assim, num panorama ainda desolador, mas já com sinais de recuperação, que se desenvolveu esta jornada. Os sinais de recuperação mais evidentes estão, é claro na várzea da Chousa e na pequena várzea a montante, esta onde as plantas de origem seminal e também as plantadas acabaram de resistir à primeira provação: o seu primeiro Verão. Mas também na zona intermédia, entre mimosas a rebentar e a germinar, entre a confusão das ramadas secas e o cerco do silvado, se encontram carvalhos a surgir, sobretudo de provável origem seminal, mesmo ninguém se tendo lembrado de as semear aqui! Por isso o progresso dos trabalhos se faz aqui com mil cuidados, para não afectar esses primeiros sinais de renascimento.


Os trabalhos incluíram as várias técnicas aplicáveis às mimosas: arranque de plantas pequenas, corte de plantas médias (com tesourão ou podadora) e aplicação de herbicida na superfície de corte, e descasque de árvores de maior porte. Também se cortaram eucaliptos que por aqui ainda ocorriam, embora dispersos. A moto-roçadora trabalhou quase todo o tempo no corte do silvado (que, embora não se possa considerar invasor, é no mínimo “oportunista”!) e ainda se fez alguma queima de material lenhoso seco num local em que causava maior estorvo.










Aqui se trabalhou de manhã, e embora estivesse presente a ideia de se passar à margem sul à tarde, assim não aconteceu: optou-se por deixar um trabalho mais completo na margem norte, e só mesmo na hora final da jornada se “inauguraram” os trabalhos na margem sul, mas mais como “pontapé de saída” para uma futura jornada. Aqui, embora o acesso seja mais difícil do que à margem norte, a existência de antigos socalcos agrícolas ao longo de quase toda a extensão a trabalhar facilita a progressão no terreno. Pelo lado negativo há imensas árvores tombadas, que é necessário cortar com motosserra e arrumar para se conseguir avançar. E claro, há a inclinada encosta adjacente, mas isso é outro desafio!


São estes os aperitivos para trabalhos futuros, provavelmente já a partir da próxima jornada de 31 de Outubro. Quanto à última, resta-nos constatar o excelente trabalho realizado pelos voluntários neste dia, sem dúvida mais um importante passo para recuperar uma área que já esteve em tão mau estado. E transmitir uma palavra de apreço à organização da SNEI, por fazer tão importantes esforços para aumentar a consciência das pessoas face a tão relevante tema.
Paulo Domingues