Notícias frescas da Primavera e do Cabeço Santo

O corona-vírus, já o sabemos, entre outras perturbações graves que está a causar, está também a impedir que os voluntários venham dar a sua valiosa contribuição para a recuperação do Cabeço Santo. Mas não pode impedir que o Cabeço Santo chegue até aos voluntários! E mais importante, não pode impedir que a Primavera chegue! Daí que, aproveitando estas suas duas “fraquezas”, aqui vão notícias frescas da Primavera e do Cabeço Santo para todos os voluntários (e não só, claro).

Vamos começar por uma boa notícia do Feridouro! Lembram-se daquela jornada, com honras de reportagem televisiva, que se iniciou numa pequena várzea junto à aldeia do Feridouro, e que foi a jornada inaugural de sementeira de bolota? Pois bem, os carvalhos com origem nessa sementeira já podem ser observados por lá, e com abundância! Gostamos de pensar que este nível de sucesso se possa replicar em todas as outras áreas semeadas, mas de facto é cedo para o confirmar.

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Aspecto presente da pequena várzea, ainda num estado bastante “bruto”
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Um dos muitos carvalhos de origem seminal que aqui desponta
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Um amieiro, plantado numa jornada já em Janeiro

Outra boa notícia: dois profissionais realizaram um dia de trabalhos muito necessários na zona ribeirinha do Cambedo. Primeiro a montante, por sinal numa área plantada fez há pouco tempo exactamente 9 anos, nesta jornada. Entretanto o solo fértil fez crescer as árvores rapidamente e de tal maneira que já estava a ser muito necessário fazer desbastes. É sempre difícil cortar árvores que com tanto custo se ajudaram a plantar, mas a verdade é que o terreno não estica… Então olha-se de um lado, olha-se de outro, observa-se bem cada árvore, qual a que está mais forte e mais bonita, e toma-se, muitas vezes com um aperto no coração, a decisão: esta tem de sair! Assim foi, algumas árvores saíram e o sítio ficou mais desafogado.

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Aspecto das árvores plantadas há 9 anos, já depois de realizado o desbaste. Os castanheiros ainda praticamente não rebentaram, pelo que se observam árvores ainda despidas
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Perspectiva do ribeiro, logo ali ao lado

Umas dezenas de metros a jusante havia uma operação difícil a realizar: quatro eucaliptos foram ficando esquecidos ao longo dos últimos 11 anos na encosta da margem sul do ribeiro e agora já estavam tão grandes que,… ou ficavam lá para sempre ou se retiravam com muito cuidado para não estragar árvores e arbustos que, muito mais pequenos, é certo, mas já abundavam em seu redor. Aliás, toda esta encosta está já bastante bem revestida, e, para além do carvalhal, encontra-se aqui uma dúzia de azevinhos, plantados em 2010 nesta jornada e também nesta, e que fizeram deste o seu “doce lar”. Eis a perspectiva da área antes e depois da retirada dos eucaliptos!

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Vista da área do Cambedo, com quatro eucaliptos a dominar
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Mesmo local depois da remoção dos eucaliptos!

É certo que, bem analisada a última foto, como no jogo “Onde está o Wally?”, neste caso, “Onde está o eucalipto?”, ou “Onde está a mimosa?”, ainda se podem lá detectar alguns. Na verdade, os trabalhos da tarde debruçaram-se sobre eles, em particular na encosta sul, e se muitos foram cortados, os maiores foram apenas descascados, para não danificar as árvores circundantes, pelo que, se ainda lá estão, o seu destino já ficou traçado. Ah! Faltou dizer que os três eucaliptos foram cortados com tal precisão que, apesar da sua dimensão, praticamente não causaram estragos!

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Descasque de uma mimosa, numa zona de elevada densidade de arvoredo
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Descasque de um eucalipto
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Para além do descasque ou corte de mimosas e eucaliptos, os trabalhos incluíram o desbaste de alguns carvalhos mais óbvios, embora a preferência seja por fazê-lo no Inverno

Outros trabalhos realizados neste dia foram: corte de silvado, desramação de ramos baixos, e também algum desbaste de carvalhos na encosta sul. Foi um dia muito produtivo, mas ainda a necessitar de continuar, agora na mancha a norte do ribeiro, onde o silvado cresceu excessivamente não obstante os grandes carvalhos que por aqui já se encontram.

E depois dos trabalhos, a Primavera, que a todo o lado vai chegando devagar: desde os salgueiros que começaram a florescer em finais de Janeiro, aos carvalhos que este ano (excepcionalmente, ou talvez não) começaram a florescer em Fevereiro, à generalidade das plantas do matagal , que floresceram em Março, aos carvalhos-negral que estão agora, em Abril, a florescer … ainda é preciso esperar por Maio para ver florescer os castanheiros e os sobreiros… e em Junho ainda há-de florescer alguma coisa! Isto são seis meses de Primavera!

Comecemos exactamente pelo Cambedo, onde foram reportados os últimos trabalhos:

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Uma “cena ” um pouco invulgar: uma giesta, em flor, no meio do bosque, “rivaliza” com os carvalhos em altura.
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O ribeiro corre por aqui entre salgueiros, no mais bem preservado troço de galeria ripícola de toda a área de intervenção
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Por aqui passa o PR8 (Trilho da Serra). Mas na verdade uns metros antes está intransitável porque o ribeiro invadiu-o
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Este azevinho, aqui plantado há 10 anos, já tem fruto.
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Esta mimosa foi aqui descascada há talvez uns 5 anos!
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Outra refrescante perspectiva da galeria ripícola
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Madressilva em flor, sobre os ramos de um carvalho
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Já na mata da Altri, onde o solo é muito mais pobre, a encosta é dominada pela urze Erica umbelata (algumas mimosas também ainda lá estão, claro)

Agora passemos um pouco para jusante e demos uma olhadela à zona de Vale de Barrocas, passando ainda antes pela Ribeira do Tojo:

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Vista do “corredor ecológico” da Ribeira do Tojo. Uma mancha de mimosas (à esquerda, na imagem) desafia contudo essa designação
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O vale de Barrocas visto do lado norte do ribeiro. À esquerda a área ainda com rebentos de eucalipto onde se “bolotou” esta época.
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Agora já da encosta sul, vista do “corredor ecológico”, em direcção ao Feridouro
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Outra perspectiva do Vale de Barrocas, agora do caminho para Belazaima-a-Velha

Aqui, nas encostas em torno do Vale de Barrocas, parece que estamos no domínio do matagal. Mas de facto, fazendo “zoom”, as muitas árvores e arbustos aí plantados e semeados nos últimos dois anos estão lá. As que se vêem nesta foto, já mais crescidas, são carvalhos de toiças rebentadas após o incêndio de 2017.

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Carvalho em rebentação numa encosta do Vale de Barrocas
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Outra perspectiva, com destaque para os pequenos carvalhos, uns plantados outros semeados
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A cor amarela das encostas é tanto devida aos tojos, que florescem profusamente, como às carquejas.
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Neste caso, uma carqueja
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Mais dois bonitos carvalhos, num canteiro com gramíneas e várias plantas do matagal

Continuemos a nossa “caminhada” para jusante, passando de novo pelo Feridouro e dando uma breve olhadela à área do Lousadelo, que na verdade, ao longe não tem ainda muito para ver. Esperamos que as bolotas por lá estejam a germinar…

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Recanto do Cortinhal, junto a uma ruína já revestida pelas heras
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Junto ao ribeiro, o feto-real “acorda” do seu “sono” invernal
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A área do Lousadelo, nas margens da represa, onde os trabalhos de reconversão se iniciaram em 2019

De repente estamos na Benfeita, onde vale sempre a pena admirar a testada das terras, já alvo de trabalhos de melhoria na sua preservação:

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Testadas da Benfeita

Passemos agora pelo Vale de Várzea, onde podemos admirar um exemplo de uma Primavera em três tempos: à direita um carvalho já bem rebentado, que já floresceu, ao centro um notável exemplar de pilriteiro, em plena floração, à esquerda um sobreiro, que ainda não descobriu que a Primavera chegou! Por estranho que possa parecer, os sobreiros rebentam tarde, finais de Abril ou mesmo Maio.

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Primavera em três tempos numa só imagem
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A urze branca parece querer rivalizar com o pilriteiro em profusão de flores brancas (Vale da Várzea)
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Vista ao longe do Vale da Várzea: também ainda aparentemente dominado pelo matagal, já está bem preenchido com as árvores que um dia haverão de dominar esta vista

E agora terminamos esta nossa viagem virtual pela zona da Pedreira/Ponte Nova, onde podemos meditar:

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O fim da nossa viagem, que curiosamente foi também um início…
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Noutra direcção…
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E finalmente entre as águas serenas da ribeira

Podem dizer que esta viagem foi parcial: muitas vistas bonitas e poucas “feias”. E faltou passar pelas cotas mais elevadas do Cabeço Santo. As duas são verdadeiras, mas as duas têm boas justificações: estamos na Primavera, e ainda por cima, quem sabe, em estado depressivo “corona-virulento”. É conveniente passar mensagens animadoras! As coisas “feias”, que são de facto o motivo para existirmos como projecto e associação, ficam para as restantes Estações do ano e para quando passar a epidemia!

Quanto às coisas, também por certo bonitas, que existem nas cotas mais elevadas do Cabeço, ficam para outro artigo. Afinal parece que este estado de coisas está para ficar mais algum tempo. Tem que haver material para outro artigo de contacto com a massa voluntária. Afinal, temos de garantir que durante este período não se vão esquecer do Cabeço Santo. Pois não?!

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O Cabeço Santo, visto de Belazaima

Também fica justificado o comprimento deste artigo: há muito tempo para ficar em casa a ler artigos interessantes… bem, espero que este caia nessa categoria!

Até breve,

Pela equipa da Associação Cabeço Santo,

Paulo Domingues

5 Replies to “Notícias frescas da Primavera e do Cabeço Santo”

  1. Obrigado Paulo pela partilha.
    Não será por esta lembrança que o cabeço santo fica esquecido, mas é sempre bom receber notícias.
    Bom trabalho.
    Abraço (virtual)
    Abel

  2. Excelente reportagem positiva, ler estas coisas dá-me logo vontade de quebrar o confinamento e ir para aí com o meu tesourão, ou com motorroçador. Belo trabalho no Cambedo, já se vê floresta no meio do deserto da monocultura.

  3. Que bela visita Paulo! Muito obrigado pela partilha. Já se vê bem que a paisagem do vale do ribeiro de belazaima está a mudar. Foi bom ver pelas tuas imagens alguns dos locais onde realizei os censos de aves. A zona dos castanheiros no Cambedo onde a densidade de Pisco-de-peito-ruivo era elevada e com nidificação confirmada ou logo mais abaixo o pequeno troço de galeria de salgueiros onde reside pelo menos um casal de Dom-fafe.

  4. Excelente reportagem!
    Muitos bons anos de trabalho anteriores, que com os futuros trabalhos que sempre precisarão, constituirão sem dúvida alguma uma ilha de renaturalização ecológica muito significativa em toda esta nossa região.
    Bem hajam todos, Paulo Domingues e todos os demais voluntários para os trabalhos e também para dirigir a nova Associação Cabeço Santo, que teve mesmo que acontecer.

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