Pela quarta vez este ano um grupo de voluntários reuniu-se para subir até ao Cabeço Santo e realizar uma jornada de trabalho. Desta vez, previa-se concluir os trabalhos de sementeira e plantação. Na “bagagem”, encontravam-se já os últimos medronheiros disponíveis, cerca de 130, uns trinta carvalhos envasados ainda da época de 2006/7, vinte carvalhos e castanheiros já desta última época em tabuleiro de alvéolos, bolotas de carvalho e castanhas pré-germinadas também do último Outono, e ainda uma dúzia de bolotas de sobreiro que haviam restado dos trabalhos de há duas semanas. A Esteva não tinha podido vir e o Raul vinha mais tarde pelo que três voluntários e um não voluntário subiram ao Cabeço pouco depois das 9:30h. As previsões meteorológicas não eram as mais favoráveis mas o céu apresentava-se com boas abertas a ocidente e alguns voluntários foram prevenidos com impermeáveis. No Cabeço, contudo, o panorama era diferente: nuvens negras e vento, muito vento frio de noroeste. E, quase ainda não tinhamos “aquecido ” as ferramentas, quando um aguaceiro se abateu sobre a equipa. Alguns refugiaram-se dentro de portas, mas um voluntário mais corajoso não se rendeu. E o aguaceiro, “vendo” que não levava a melhor, lá se afastou para outras paragens passados uns 15 minutos. Foi então que o trabalho começou a sério: o nosso não voluntário abriu buracos e os outros plantaram medronheiros.
A área de trabalhos era aquele espaço de reconversão de eucaliptal da propriedade da Silvicaima, na qual já tinhamos plantado medronheiros e semeado sobreiros. O solo, difícil, delgado, e com muitas pedras, requeria uma busca cuidada dos locais mais apropriados. Além disso, esta era a parte mais invadida com Acacia longifolia, ainda com muitas plantas pequenas e fáceis de arrancar. Dois voluntários tiveram até a feliz ideia de arrancar acácias em torno dos medronheiros plantados e com elas fazer um “mulching” junto aos pés destes. É o que se chama transformar um “mal” num “bem”.
Entretanto, o Raul chegou, e fez-se uma pausa para as tangerinas, e… para a observação de flores.
As flores que nesta altura mais se destacam na paisagem são as de carqueja e as de tojo, duas plantas do matagal lenhoso. Ambas pintam a paisagem de um amarelo vivo, que atrai o olhar, mesmo ao longe. No local onde andávamos, não havia muito tojo mas sim alguma carqueja, essa planta “humilde” e frugal, tão desprezada, mas tão cheia de virtudes e de usos úteis ao homem. Entre as herbáceas, havia contudo agora uma flor que ocorria com abundância naquele local: trata-se da cila-de-uma-folha (Scilla monophyllos), pequena planta bolbosa com uma flor de cor azul, também conhecida por cebola-albarrã (“Planta bolbosa rica em substâncias activas e mesmo tóxicas. É diurética e expecturante. Externamente usam-se as escamas do bolbo (em verde) pisadas e formando cataplasma, aplicadas três ou quatro vezes ao dia cura os joelhos de àgua.” Com um obrigado à Rosa [http://cheirar.blogspot.com]). Outra planta que chamava a atenção pelas suas flores intensamente azuis era a Lithodora prostata (erva-das-sete-sangrias). Também o lentisco se encontrava em flor, mas este já na sua fase final de floração.
Observadas as flores, voltou-se ao trabalho, mas a manhã ainda não haveria de acabar sem que um aguaceiro não muito forte, mas empurrado pelo vento que o acompanhava, se tivesse abatido de novo sobre os participantes.
Ao terminar a manhã, praticamente todo o espaço disponível naquela área estava ocupado, embora ainda tivessem sobrado uns 40 medronheiros. O merecido almoço foi fruído usando a carrinha como corta-vento, pois este teimava em não enfraquecer.
À tarde, o grupo deslocou-se até uma parcela junto à antiga casa de trabalhadores da Silvicaima, para plantar e semear carvalhos. Já aqui tinhamos iniciado a sementeira 3 semanas antes e agora tratava-se de concluir o trabalho. Primeiro foram plantadas as árvores envasadas. Os medronheiros que tinham restado foram também plantados. Finalmente, foram semeadas as bolotas. Depois do lanche, o grupo deslocou-se até à casa da Silvicaima e, como já fora feito outras vezes, sonhou com a possibilidade de aquela que já foi uma bonita casa de trabalho ser um dia recuperada e usada por grupos de jovens de todas as idades dedicados a esta tarefa gigantesca de recuperar uma natureza tão degradada. A “semente” já foi em tempos lançada ao “solo”, mas não se conhece o seu grau de letargia, não se sabe quanto tempo demorará a “germinar”. O que julgamos saber é que a Vida anseia por essa eclosão.
Depois desta visita já não havia muito tempo disponível, mas o espaço para plantação também já se encontrava praticamente completo. Assim se concluiu a época de plantação e sementeira, com perto de 1000 árvores e arbustos nativos plantados ou semeados. Ainda necessitarão de alguns cuidados e acompanhamento, mas por agora a missão está cumprida. Um obrigado a todos os voluntários que para ela contribuiram e particularmente aos que neste dia tão entusiasticamente participaram.
E não te esqueças de pedir e agradecer a chuvinha! Que é lá isso de não deixar o aguaceiro levar a melhor?! Se não vier chuvinha as vossas plantinhas estão mal e as minhas não estão muito melhor 😛
Em relação à medida de usar as acacias cortadas como mulch, tenham em atenção que se não murcharem o suficiente para morrer ainda se podem voltar a agarrar ao solo se vierem uns dias de chuva, como todas as plantas que se comportam como pestinhas. Se calhar não era má ideia cortarem-lhe as raízes. Digo eu, que nunca experimentei usar acacias como mulch, no entanto há muitas plantas vigorosas, consideradas daninhas em agricultura e jardinagem, que o fariam com facilidade.
E já agora mais uma crítica, já que hoje tirei o dia, ou melhor, a noite para isso – que tal as fotos das plantinhas legendadas com o nome? (Bem prega frei tomás, mas enfim, acho que era interessante) E que tal mais fotos das plantinhas? Tenho que te dar umas liçõezinhas sobre como tirar centenas de fotos em alguns minutos, eh eh! Pois, se andasse com um bocadinho mais de fôlego também me podia oferecer como voluntária, eu sei, mas agora não pode ser. Mas quem sabe, se aliciares com magníficas fotos, em passando a tempestade também vou 😛
Jinhos
Ena, agora já não fazes censura! Aquele emoticon era suposto estar a deitar-te a língua de fora, e não aquele ar feliz com a falta de chuva. Venha chuva!
Bolas! Parce que acabaram tudo sem a minha ajuda! Que eficiência!:) E concordo com a jardineira, bem vinda a chuva, ainda que quando se está no Cabeço Santo e ela cai acompanhada de uma brisa nos faça ter pensamentos pecaminosos, ihh!
Haverá mais que fazer da próxima? Espero que sim!
Beijinho
Carissima Esteva, era bom que não houvesse porque se passava a Primavera a observar e a passear. Mas ainda ficou que fazer não apenas para a próxima mas para as 50 ou 100 próximas!
Abraço.
E já que estou numa de identificação botânica:
Carqueja: Genistella tridentata e esta é uma daquelas em que parece que há confusão quanto aos nomes botânicos. Segundo a página da Flora Digital de Portugal, do Jardim Botânico da UTAD há uma data deles, clica no link para ver (espero que funcione)
Quanto à outra tenho o nome debaixo da língua mas infelizmente ele não quer sair, e por estranho que pareça não consta dos meus guias de plantas mediterrânicas, por isso fica para a próxima. Valeu que na busca descobri umas coisitas interessantes!
Ah e no último parágrafo estava a falar das flores azulinhas da última foto, não tinha reparado na cila que não conhecia e também não vou à procura que está a ficar um pouquito tarde. Entretanto bastou pôr o nome vulgar da azulinha no google para aparecer a sua botânica graça: Lithodora prostrata.
(Tens a certeza que te deste ao trabalho de procurar? É que daqui a pouco vou exigir co-autoria no blog pelos serviços prestados 😛 )
Ops já lá estava! Não li o texto, lá se vai a reivindicação. O chato é que aqui não dá para apagar comentários, por isso cá fica a minha refilonice toda. Enfim, valeu pelas coisas interessantes que fui encontrando pelo caminho.
Bem, os serviços foram prestados na mesma. Além de que aumentei enormemente o movimento na caixa de comentários 🙂 Portanto resolvi manter a reivindicação!
Foi um grande dia sem dúvida, modéstia à parte creio que trabalhamos muito bem e foram muitas as plantas que conheceram “nova terra” e horizontes. A companhia também foi/é fantástica e assim dá gosto trabalhar. Creio que foi uma tarefa priveligiada, pois será muito bom acompanhar o crescimento de toda esta àrea e sentir que um bocadinho de tudo aquilo foi também obra nossa. Os meus parabéns pelo fantástico projecto e conto ajudar mais vezes.