Ontem, dia 23, mais uma vez um grupo de voluntários se reuniu para uma jornada de trabalho no Cabeço Santo. Desta vez o grupo incluiu ainda um não voluntário, para ajudar em trabalhos mais difíceis e permitir alcançar os objectivos para este dia. E os objectivos eram: plantar 130 medronheiros e semear um número indeterminado de bolotas de carvalho-roble.
Assim, pouco depois das 9:00h, o grupo partiu de Belazaima. Na “bagagem”, medronheiros, bolotas, ferramentas, estrume de cavalo, vermicomposto, adubo mineral, água, comida… Por seu lado, o tempo não se revelava promissor: um vento forte de sul trazia consigo ameaças de alguma chuva. Nada que desanimasse os participantes, por agora…
Subida a montanha, como era de esperar, o vento aumentou de intensidade… e diminuiu de temperatura. Mas os trabalhos começaram, com a plantação dos medronheiros. Realizaram-se numa parcela do terreno da Silvicaima de reconversão de eucaliptal. Esta parcela, de uns 2 ou 3 hectares, foi criada para dar mais continuidade às zonas de conservação adjacentes, embora realmente já não se tratasse de um eucaliptal de grande produtividade. O solo é pedregoso e pobre, e a mobilização a que foi sujeito há uns 15 anos, embora pouco mais tivesse sido que uma subsolagem, é ainda claramente perceptível.
Desta vez contámos com uma máquina de abrir buracos para facilitar a preparação do solo, cuja operação esteve a cargo do nosso não voluntário. A existência de pedras não tornava contudo o trabalho fácil. Nesta plantação, ao contrário da primeira, usámos também estrume de cavalo na fertilização, para além do adubo mineral, procurando dar às plantas um bom “arranque” neste solo pobre.
Embora o acesso a esta parcela fosse mais fácil do que ao terreno do FCN da Quercus, os fertilizantes, ferramentas e plantas tiveram que ser transportados subindo a encosta,… enquanto o vento nos empurrava furiosamente por ela abaixo! Álém disso, de vez em quando, um aguaceiro fraco acompanhava o vento, apelando à resistência dos participantes.
Num dado momento uma observação deu origem a um momento de descontracção: uma bonita lagarta, numa folha de medronheiro (ver foto acima). Uma consulta posterior ao livro “as borboletas de portugal” de Ernestino Maravalhas, permitiu concluir tratar-se de Charaxes jasius, uma borboleta característica dos medronhais. Diz Maravalhas, a propósito, no tópico “conservação” desta espécie: “é importante preservar os bosques de medronho da zona mediterrânica”. Deixa-nos confortados: era exactamente o que andávamos a fazer! Tomo a liberdade, com o devido agradecimento, de incluir entre as fotos, uma da prancha da referida obra de Maravalhas em que se apresenta a borboleta (faces superior e inferior).
Apesar das condições difíceis, os trabalhos progrediram a bom ritmo, e ao terminar a manhã todos os medronheiros estavam plantados. Então, um aguaceiro mais forte, devidamente acompanhado por um vento sempre forte, empurrou os participantes à pressa para o interior da carrinha de apoio. Desta vez ficámos satisfeitos por sermos apenas quatro! Aproveitou-se a oportunidade para almoçar dentro de portas, mas no fim do almoço as condições já tinham melhorado, dando boas perspectivas para a tarde.
À tarde o grupo deslocou-se à vertente sul do terreno do FCN, a fim de aí fazer uma sementeira de bolotas de carvalho roble. Não é, nesse local, extensa a área com condições prováveis de sucesso da espécie, por isso não se iria passar aí muito tempo. A vegetação sub-arbustiva é densa no local, com predominância do sanganho-mouro. Também os eucaliptos, que nessa zona não levaram herbicida, insistem em voltar, apesar do corte repetido a que já foram sujeitos. A vegetação arbustiva é abundante, sendo um dos locais de mais frequente ocorrência de Phillyrea latifolia (aderno). Na vertente norte, observava-se já a urze vermelha em início de floração.
Pelas 14:30h os trabalhos deram-se aí por terminados. O resto da tarde iria passar-se numa parcela da propriedade da Silvicaima que a empresa havia preparado para a plantação com carvalhos. Trata-se de uma área de cabeceira de um vale, onde no passado uma nascente de água havia até sido aproveitada. Depois de uma visita a uma antiga casa, construída para os trabalhadores que iniciaram a plantação da propriedade com eucaliptos, os trabalhos começaram. Aqui foram facilitados pelo fácil acesso e pelo facto de o solo já ter sido preparado previamente. As tarefas dividiram-se entre os participantes e o trabalho progrediu a bom ritmo. Ocasionalmente, um aguaceiro fraco, mas “tocado a vento” caía sobre nós, mas os impermeáveis, e uma boa dose de determinação, permitiram continuar os trabalhos até faltar uma das peças essenciais: os tubos de protecção. Até é justo referir uma apreciável diminuição da velocidade do vento para a tarde. E não esquecer e agradecer um belo canto de ave que nos acompanhou nesta última parte da jornada. Gostariamos de a ter identificado, mas, não obstante algumas tentativas, não me parece que alguma tenha sido acertada! Faltava um voluntário conhecedor de cantos de aves!
Já passava das 17:30h quando os participantes, já algo cansados pela intensidade da jornada, posaram para a foto “de família”. Esta sofrida paisagem agradece o seu contributo.
Paulo Domingues
Olá!!!!!!
Belo dia, este, em que a nossa luta contra os eucaliptos continuou, apesar das intempéries que pretendiam vencer a nossa determinação… Mas não conseguiram 🙂 Farei os possíveis por estar presente no próximo sábado. Beijinho.